Crédito sempre foi um tema central da economia política, para conservadores e progressistas.

Schumpeter considerava o sistema de crédito pedra angular do capitalismo. Por meio dele, um empreendedor desprovido de capital pode mobilizar meios de produção e trabalho alheios, de modo a remunerar estes fatores, pagar os juros do empréstimo e ainda auferir lucro, desde que produza de forma inovadora num processo de “destruição criativa”.

Marx defendia a criação de um banco nacional que democratizasse radicalmente o acesso ao crédito, permitindo aos trabalhadores adquirir cooperativamente os meios de produção, livrando-os da dominação. Via no sistema de crédito, e não na propriedade estatal, um caminho de transição para o socialismo.

A crise de 1929 demonstrou também, como alertava o próprio Marx, o potencial de “criação destrutiva” dos mercados financeiros que lançaram o capitalismo na sua maior crise, só superada pela demanda devastadora da Segunda Guerra.

De 1933 a 1944, economistas políticos, Keynes inclusive, tentaram decifrar as razões do colapso e acordaram um conjunto de medidas regulatórias dos mercados financeiros.

De 1971 a 1999, este sistema de freios à anarquia financeira foi sendo desmontado, o que estaria na raiz da crise global de 2008 e suas desconcertantes consequências políticas.

Tímidas medidas foram tomadas desde então por nova regulamentação, mas ainda vivemos um tempo de anarquia, com reposição de risco financeiro sistêmico.

No Brasil, sem que estejamos imunes à anarquia financeira global —as reservas cambiais nos dão apenas alguma proteção—, vivemos uma situação paradoxal: o despotismo financeiro local.

Dados do Banco Mundial mostram que o spread bancário médio é de 3% nos EUA, 10% no Uruguai e 40% no Brasil.

Segundo o professor Tiago Cavalcanti, da Universidade de Cambridge, o spread médio cobrado pelos bancos para as firmas formais brasileiras entre 2005 e 2016 foi de 44%. A inadimplência destes tomadores, reportada pelos bancos como a vilã do spread, foi, no entanto, de apenas 4,3%!

Mesmo ponderando estes números pelo tamanho dos empréstimos, é difícil vislumbrar argumentos contra a evidência de que os bancos brasileiros espoliam empresas e consumidores em geral, impedindo que novos atores promovam um aumento da produtividade da economia.

Sem uma vigorosa reforma bancária, que promova o encontro do talento com os meios da sua realização, não há a menor possibilidade de retomada de uma agenda de desenvolvimento.

Educação, terra e crédito deveriam ser as palavras de ordem do momento.