Fernando Haddad

Professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo.

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Saúde

Também nesta área o governo parece mal sintonizado com os desafios

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Por anos, o Brasil conviveu com a falsa informação de que a OMS preconizava como parâmetro ideal de atenção à saúde a relação de um médico para mil habitantes.

Não se sabe a origem desse número, disseminado por quem dele se beneficiava, que produziu enormes danos à saúde no país.

É voz corrente mundo afora que o SUS brasileiro é uma conquista civilizatória. Após o regime militar, que nos legou indicadores sofríveis, os progressistas inscreveram na nossa Carta de 1988 o princípio da universalidade do direito à saúde.

De lá para cá, sem que tenha havido incremento substancial do investimento em saúde como proporção do PIB, os indicadores da área passaram por evolução surpreendente, sobretudo quanto à expectativa de vida e mortalidade infantil e materna.

Um segundo marco importante foi a consolidação da Estratégia Saúde da Família. Não há dúvida de que o foco na atenção básica é um dos responsáveis pelos resultados positivos. A ampliação do acesso à atenção básica pode ser medida pela expansão do atendimento das equipes de saúde da família que, em 1998, chegava a 4,4% da população e dez anos depois atingiu 70%.

A terceira revolução, inquestionavelmente, foi o programa Mais Médicos, o mais extraordinário legado social da gestão Dilma. Dilma enfrentou a mais injusta campanha corporativa contra a iniciativa cujas sequelas políticas se fazem sentir até hoje.

Neste momento em que o Brasil abre mão de vantagens comerciais de país em desenvolvimento para pleitear uma vaga na OCDE, convém lembrar que nosso país conta com 2,1 médicos por mil habitantes, enquanto a média dos países da OCDE é de 3,4.

Se considerarmos a distribuição geográfica, a situação é ainda pior. Norte e Nordeste têm menos da metade dos médicos do Sudeste, proporcionalmente.

O Mais Médicos permitiu levar assistência médica a mais de 60 milhões de brasileiros desassistidos, em parte, graças à vinda de médicos do exterior, especialmente cubanos, que preencheram as vagas dispensadas pelos médicos brasileiros, que tinham prioridade.

Bolsonaro, sob o pretexto ridículo de que os médicos cubanos queriam implantar a guerrilha no Brasil, acabou com o programa, deixando os pobres até hoje ao deus-dará.

Considerando-se ainda que os cortes orçamentários podem fazer o investimento em saúde por habitante cair, não espantaria observar uma inédita reversão da tendência histórica.

Pelo perfil menos caricato do ministro, tem-se dado pouca atenção ao fato de que também na saúde o governo parece mal sintonizado com os desafios do setor.

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