Fernando Haddad

Professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo.

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Fernando Haddad

Os filhos deles

Bolsonaros transformaram gabinetes parlamentares na própria mina

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A corrupção pode ter salvado momentaneamente a democracia. Refiro-me aos filhos de Bolsonaro. A quantidade de evidências que as autoridades policiais reuniram sobre o esquema das rachadinhas —palavra branda para peculato e lavagem de dinheiro— faz crer que foi o ocupante do Planalto que sentiu o golpe e busca, circunstancialmente, uma conciliação com o Congresso e o STF.

A família Bolsonaro não descobriu o mapa da mina; antes, transformou gabinetes parlamentares na própria mina. O esquema, descrito na peça de acusação, é relativamente singelo: nomeiam-se servidores fantasmas para cargos comissionados; salários são sacados na boca do caixa; e o dinheiro é distribuído para membros da família por meio de depósitos em conta, compra de imóveis subfaturados, financiamento de campanha eleitoral, uma fantástica loja de chocolates etc.

O crime compensaria se duas condições fossem satisfeitas: vários mandatos parlamentares (01, 02, 03) e paciência (28 anos). Os pequenos saques não chamariam a atenção, e de saque em saque...

Lembrei-me do filme "Um Sonho de Liberdade", em que Andy Dufresne (Tim Robbins) passa 19 anos fazendo um túnel com uma pequena machadinha e despejando, sem que ninguém notasse, os grãos de argila da parede da sua cela --tapada com um pôster de mulher seminua-- no pátio do presídio. Dufresne era inocente, e sua fuga significava a redenção.

Os Bolsonaros tinham também o seu sonho de liberdade, e, de grão em grão, a família acumulou um patrimônio fundiário respeitável, mas que, segundo o colunista Reinaldo Azevedo, pode levá-los à cadeia.
O Coaf identificou a estranha movimentação antes das eleições, e, segundo o empresário Paulo Marinho, os Bolsonaros foram alertados do ocorrido pela própria Polícia Federal. A narrativa do establishment não podia ser contestada. No segundo turno da eleição, havia dois extremistas, mas um deles representava a banda podre da política, e o outro, o messias. Queiroz foi demitido, preventivamente, antes do segundo turno, e o país só veio conhecê-lo, e seus famosos depósitos, depois do escrutínio.

Bolsonaro, a princípio, tentou falar grosso. Entretanto, o "acabou, porra!" terminou em abraço, e o que de fato acabou foi a Lava Jato.

A operação para blindar os meninos segue o seu curso. Enquanto isso, a sensação é a de que vivemos em "plena" democracia ao tempo em que a República é corroída miseravelmente, em clima de harmonia entre os Poderes.

Moro, cansado da política, estuda mudar-se para a metrópole. E aqui a carne continua cara por culpa dos filhos do Lula, donos da Friboi.

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