Fernando Haddad

Professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo.

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Fernando Haddad

Terra de Trumps

Torcer pela vacina é racional, mas não exime o gestor público de responsabilidade

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"Quem seria o Macron brasileiro?" Essa era a pergunta mais ouvida depois da eleição do atual presidente da França, em 2017.

Vários políticos desfilaram em busca da chancela dos porta-vozes do establishment. Um deles resolveu gravar um vídeo em francês para saudar a boa nova. Em 2018, como se sabe, o establishment elegeu Bolsonaro como seu representante. Agora, procura-se um Biden. Alguns políticos brasileiros até fizeram chegar às suas mãos uma espécie de carta de apresentação à guisa de cumprimentos. Vamos ver o que os headhunters da direita nos reservam para 2022.

Donald Trump perdeu as eleições para a Covid-19. Todas as pesquisas de opinião lhe davam a vitória no começo do ano. Entretanto, sua gestão da pandemia foi catastrófica, para dizer o mínimo, e seu discurso, durante a crise, tem sido muito parecido com o discurso de Bolsonaro, que, mesmo após sua derrota, toma-o por modelo. Os números também os aproximam: morreram, até hoje, 740 norte-americanos por milhão de habitante, contra 773 brasileiros.

Isso pode passar a falsa impressão de que quem se opõe ao discurso negacionista de ambos esteja fazendo um bom trabalho, o que não é verdade. Os dados do estado e da cidade de São Paulo são incontroversos. Os mortos nessas localidades atingiram 909 por milhão e 1.131 por milhão, respectivamente.

E, como bem demonstraram nesta sexta (13) três professores da USP de Ribeirão Preto ("Plano São Paulo deve ser revisto", Tendências / Debates), o problema é de gestão.

Alunos da Escola Estadual Milton da Silva Rodrigues no primeiro dia da volta às aulas, em São Paulo - Nelson Almeida/AFP

São Paulo, cidade e estado, não adotaram as medidas que permitiram a países como China, Vietnã, Austrália e Nova Zelândia obter resultados sanitários e, consequentemente, econômicos satisfatórios: o protocolo Tris (testagem, rastreamento e isolamento com suporte). Para quem considera a solução utópica, basta conferir os resultados da cidade que a adotou. Araraquara, governada pelo PT, tem em torno de 250 mortes por milhão.

Segundo reportagem de Ana Letícia Leão (O Globo, 13.nov.2020), a Info Tracker --plataforma da USP e da Unesp desenvolvida para monitorar a pandemia-- indica um salto de 50% nas suspeitas da doença entre agosto e novembro na cidade de São Paulo. Não se sabe se o recente apagão nos dados, que durou uma semana, tem a ver ou não com o calendário eleitoral, mas estamos em meio a um cenário provável de subnotificação.

Torcer pela vacina é racional, mas não exime o gestor público de responsabilidade. Vidas e empregos se perdem nesse caldo macabro de obscurantismo federal e incompetência local nessa terra de Trumps.

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