Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Fernando Canzian

Com duas facas no pescoço, novo presidente pode ser quase nanico

Presidencialismo de coalizão, com barganhas fisiológicas, continuará a regra do jogo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O próximo presidente do Brasil pode acabar eleito com o menor apoio popular desde a redemocratização. Isso tornará difícil o seu governo e turbulenta a vida dos governados.

Com Lula de fora, os que pretendem votar em branco ou anular no segundo turno salta de 19% para até 39%, segundo o Datafolha. Como dois candidatos dividirão os votos nessa etapa, o eleito não terá o apoio de dois terços dos eleitores.

A sustentação em votos diretos será ainda menor considerando que entre 15% a 20% dos eleitores não têm aparecido para votar nos últimos pleitos.

Em resumo, o novo presidente pode ser um quase nanico em termos de votos depositados diretamente nele.

Isso trará muita dificuldade para politizar questões e tocar sua agenda em um Congresso que seguirá dominado pelo fisiologismo dos partidos “tradicionais”, como MDB e DEM.

Para piorar, como legendas do chamado “centrão” (PP, PSD, PR e outros) devem acabar sem candidato a presidente, elas vão usar recursos dos fundos públicos para reforçar bancadas, aumentando o poder de barganha.

Nenhum dos candidatos mais competitivos até aqui (Bolsonaro com 17%; Marina, 15%; Ciro, 9%; Joaquim Barbosa, 9%) faz parte da turma que geralmente governa indiretamente o Brasil barganhando o seu apoio. Ou seja, ele será bem mais caro.

Mesmo o candidato mais competitivo por um partido tradicional, Geraldo Alckmin (PSDB, com 8%), pode acabar eleito com cerca um terço dos votos.

Com um estofo mirrado, o novo presidente assumirá em 2019 com duas facas no pescoço, uma de cada lado.

Se descumprir a nova regra constitucional que proíbe o aumento das despesas públicas além da inflação do ano anterior (o teto dos gastos), pode ser acusado (e afastado) por crime de responsabilidade. Se não aprovar a reforma da Previdência, vai acabar furando o teto. 

Não tem mágica: até 2014 os gastos da União cresciam em média 6% acima da inflação todos os anos. O ritmo só diminuiu graças a cortes brutais em investimentos públicos, que já estão no osso e sem margem para grandes reduções.

Muita água ainda vai rolar. Uma chapa Marina-Barbosa, que reuniria uma espécie de Lula de saias e um representante da Justiça, pode produzir um presidente um pouco mais forte em termos populares. Assim como outras combinações.

Mas não haverá um nome único e forte, capaz de mobilizar a maior parte da sociedade e colocar facilmente a sua agenda. 

O presidencialismo de coalizão, com barganhas fisiológicas, continuará sendo a regra do jogo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.