O próximo presidente do Brasil pode acabar eleito com o menor apoio popular desde a redemocratização. Isso tornará difícil o seu governo e turbulenta a vida dos governados.
Com Lula de fora, os que pretendem votar em branco ou anular no segundo turno salta de 19% para até 39%, segundo o Datafolha. Como dois candidatos dividirão os votos nessa etapa, o eleito não terá o apoio de dois terços dos eleitores.
A sustentação em votos diretos será ainda menor considerando que entre 15% a 20% dos eleitores não têm aparecido para votar nos últimos pleitos.
Em resumo, o novo presidente pode ser um quase nanico em termos de votos depositados diretamente nele.
Isso trará muita dificuldade para politizar questões e tocar sua agenda em um Congresso que seguirá dominado pelo fisiologismo dos partidos “tradicionais”, como MDB e DEM.
Para piorar, como legendas do chamado “centrão” (PP, PSD, PR e outros) devem acabar sem candidato a presidente, elas vão usar recursos dos fundos públicos para reforçar bancadas, aumentando o poder de barganha.
Nenhum dos candidatos mais competitivos até aqui (Bolsonaro com 17%; Marina, 15%; Ciro, 9%; Joaquim Barbosa, 9%) faz parte da turma que geralmente governa indiretamente o Brasil barganhando o seu apoio. Ou seja, ele será bem mais caro.
Mesmo o candidato mais competitivo por um partido tradicional, Geraldo Alckmin (PSDB, com 8%), pode acabar eleito com cerca um terço dos votos.
Com um estofo mirrado, o novo presidente assumirá em 2019 com duas facas no pescoço, uma de cada lado.
Se descumprir a nova regra constitucional que proíbe o aumento das despesas públicas além da inflação do ano anterior (o teto dos gastos), pode ser acusado (e afastado) por crime de responsabilidade. Se não aprovar a reforma da Previdência, vai acabar furando o teto.
Não tem mágica: até 2014 os gastos da União cresciam em média 6% acima da inflação todos os anos. O ritmo só diminuiu graças a cortes brutais em investimentos públicos, que já estão no osso e sem margem para grandes reduções.
Muita água ainda vai rolar. Uma chapa Marina-Barbosa, que reuniria uma espécie de Lula de saias e um representante da Justiça, pode produzir um presidente um pouco mais forte em termos populares. Assim como outras combinações.
Mas não haverá um nome único e forte, capaz de mobilizar a maior parte da sociedade e colocar facilmente a sua agenda.
O presidencialismo de coalizão, com barganhas fisiológicas, continuará sendo a regra do jogo.
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