Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

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Fernando Canzian
Descrição de chapéu campanha eleitoral Lula pt

Lula, Temer e Bolsonaro é só blá, blá, blá: buraco é mais embaixo

Brasil tem espaço para arrumar a casa e importante é o que candidatos dizem sobre isso

Quem estiver interessado mesmo no futuro deveria esquecer um pouco o caso Lula, as lambanças de Temer e aquele candidato que faz apologia ao estupro.

Nosso buraco é mais embaixo e isso determinará o que virá pela frente em termos de emprego, renda e desigualdade. O nervosismo do mercado, com o dólar em alta e Bolsa em queda, não prenuncia boa coisa.

 

O Brasil está quebrado.

A boa notícia é que um novo ciclo de crescimento mundial vem dobrando a esquina. Ele pode nos aliviar por um tempo, mas chega com riscos embutidos.

O maior é o Brasil relaxar numa banheira morna de dinheiro que virá com o aumento da demanda mundial e valor das commodities que produzimos. O preço do petróleo já subiu quase 50% no último ano e há tendência de alta moderada para metais e produtos agrícolas.

O Centro Brasileiro de Infraestrutura projeta que o petróleo trará quase R$ 60 bilhões em receitas novas para a União, estados e municípios em royalties e leilões de exploração. Isso é piso. Podem ser mais vários bilhões dependendo do dólar e das exportações.

O Rio, abre alas da quebradeira nacional, será um dos mais beneficiados pelo dinheiro do petróleo. Foi assim no ciclo anterior de alta, quando ampliou gastos (principalmente com servidores) em cima de receitas não recorrentes. O estado quebrou quando o preço caiu.

O resto do país também terá alguma folga com o aumento da arrecadação que essa renovada demanda mundial por commodities vai gerar.

O risco é adiarmos o ajuste. E quebrarmos duplamente à frente.

Os números falam por si: o Brasil precisa de quase R$ 300 bilhões a mais por ano para estabilizar o crescimento de sua dívida pública. Ela saltou, em apenas três anos, do equivalente a 52% do PIB para 75% (+23 pontos), e é a maior entre os emergentes.

A dívida e outros indicadores importantes são calculados como proporção do PIB para que se tenha ideia se um país pode financiá-los.

No caso brasileiro, isso está ficando difícil, pois União, estados e municípios deixaram de economizar e hoje vivem no vermelho.

Até 2011, eles mantinham um superavit de cerca de 3% do PIB todos anos, o que ajudava a conter o endividamento. Agora, têm déficit de cerca de 2%, o que faz a dívida aumentar.

Nos últimos 20 anos, a despesa pública no Brasil sempre cresceu acima da inflação, sobretudo pelos gastos com servidores e o déficit da Previdência. Somos um país ainda jovem, mas gastamos cerca de 8% do PIB com aposentadorias, o mesmo que o Japão.

O novo fôlego que o mundo nos oferece deveria ser usado para tentar reformar a Previdência enquanto é tempo, aumentando a idade mínima de aposentadorias e a contribuição dos servidores.

Esse novo ciclo de crescimento global pode ter pernas curtas, pois está apoiado em um inédito despejo de dinheiro barato no mercado que bancos centrais de EUA e União Europeia promoveram para tirar suas economias da Grande Recessão mundial a partir de 2008.

Ainda não sabemos quanto tempo isso vai levar. Mas com o crescimento global agora sincronizado haverá aumento da demanda e, consequentemente, da inflação nesses países.

Quando seus bancos centrais tiverem que subir ainda mais os juros para conter isso, a massa de dinheiro barato que hoje financia países como o Brasil encolherá e migrará para lugares mais arrumados que o nosso.

Essa hora vai chegar.

Por isso, esqueça o blá, blá, blá. O importante é prestar atenção no que (e se) os candidatos falam sobre isso.

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