Mesmo preso em Curitiba, Lula impôs ao PT preservar o lulismo em vez de tentar salvar o petismo e mobilizar o que resta da esquerda no Brasil.
Como faz há 30 anos, quer manter-se único, como palmeira no deserto.
A sinuca de Lula é só aparente: se liberar um plano B à Presidência, assumirá sua derrota na Justiça. Se mantiver a candidatura até 17 de setembro (data limite para o TSE julgar a impugnação de candidatos), o substituto será apresentado a apenas duas semanas do 1º turno.
No dia da prisão em São Bernardo, Lula parece ter feito sua escolha: apresentou candidatos ainda inexpressivos e não petistas (Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila) como promessas da esquerda. A deferência ao petista Fernando Haddad foi protocolar.
No final, a homenagem a dona Marisa pode ter sido a missa de corpo presente do PT.
Com a proibição do financiamento empresarial, os partidos agora dependem sobretudo da bancada na Câmara (e em menor medida do Senado) para obter dinheiro do fundo eleitoral público e do fundo partidário, que totalizam R$ 2,6 bilhões neste ano. A bancada determina também tempo de TV para as campanhas.
Carregado pela vitória de Dilma e por um Lula em franca atividade em 2014, o PT elegeu o maior número de deputados há quatro anos, 70.
Neste ano, sem um candidato forte já em campo, é provável que o total de deputados e senadores encolha consideravelmente, transformando o PT em partido médio ou até pequeno. Os casos rumorosos que marcaram o PT e a condenação do ex-presidente não ajudam.
Com Lula fora da campanha, o potencial de transferência de seus votos também tende a se diluir em alternativas e partidos nesse campo (Boulos/PSOL, Manuela/PC do B, Ciro/PDT e Marina/Rede).
E embora o petista tenha até 37% das intenções de voto no melhor cenário do Datafolha, o PT é o partido preferido de 19% dos eleitores. Ou seja, tem em simpatia metade das intenções de voto no ex-presidente.
Sem Lula ou um substituto competitivo e apresentado desde já, é grande a chance de o PT definhar num deserto financeiro e sem palmeira, elegendo uma bancada bem menor que causará novo impacto daqui a quatro anos.
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