Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

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Fernando Canzian

Brasil flerta com o caos e não toma providências

País precisa acordar antes que revoltas como dos caminhoneiros se espalhem

A greve dos caminhoneiros trouxe o caos e tem a ver com o fato de o Brasil estar quebrado. 

Se os brasileiros não acordarem para isso, desordens semelhantes serão vivenciadas nos sistemas de saúde, educação e segurança públicos. 

É questão de tempo. E não haverá saída sem que o país reforme seu sistema de Previdência. 

Neste ano, o Orçamento da União prevê gastar R$ 37 bilhões a mais com Previdência em relação a 2017, atingindo R$ 596,3 bilhões. O valor a mais só neste ano é superior aos R$ 29 bilhões para o Bolsa Família, com 14 milhões de beneficiários. 

Se somarmos Previdência às despesas com funcionalismo, 64% das receitas da União estão comprometidas com gastos obrigatórios.

Esse percentual crescente, que tira cada vez mais dinheiro de saúde, educação e investimentos em infraestrutura, é o que explica a sanha do governo em aumentar impostos que acabaram embalando a greve dos caminhoneiros.

Dólar e petróleo vêm subindo. Mas, como mostrou o analista do UBS Luiz Carvalho na Folha, a margem da Petrobras representa só 12% do preço na bomba, enquanto os impostos correspondem a 40% do total. 

 

Pelos cálculos do banco, enquanto a margem da Petrobras caiu 17% de junho de 2017 a janeiro de 2018, os impostos dos Estados sobre combustíveis aumentaram 15%, e os federais, 85%.

É isso: a prioridade máxima de estados e governo federal têm sido há anos aumentar a arrecadação, via impostos, e cortar gastos, reduzindo ao osso investimentos, para bancar Previdência e funcionalismo.

Nos últimos 30 anos, a carga tributária nacional saltou do equivalente a 24% do PIB para 34%. Isso terá limites em insurreições como a dos caminhoneiros ou em distúrbios que a falta de estrutura em hospitais e escolas poderão provocar.

Reformar a Previdência seria o caminho mais curto e provavelmente o mais suave para desanuviar isso, abrindo espaço no Orçamento. Não há mais muito de onde cortar.

Mas 71% dos brasileiros não querem saber disso, segundo o Datafolha e outras demonstrações recentes da sociedade.

Como em março passado, quando mais de 30 mil pessoas protestaram em São Paulo contra proposta da prefeitura de aumentar as contribuições dos servidores de 11% para 14%, e de aplicar descontos de 1% a 5% nas remunerações dos já aposentados. 

Acharam muito e não passou. 

O que a greve e o caos demonstraram é que sacrifícios desse tipo talvez não sejam tão severos assim.

 

Veja o que os candidatos Ciro Gomes (PDT), Mariana Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) disseram em sabatina Folha/UOL/SBT sobre a reforma da Previdência. Jair Bolsonaro (PSL) ainda não marcou entrevista.


 

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