Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Fernando Canzian
Descrição de chapéu Eleições 2018

Só falta Haddad prometer embaixada na Venezuela para Gleisi

Ao ir para a cama com o mercado, petista pode acordar com seu inimigo mais íntimo

Fernando Canzian
São Paulo
O candidato à Presidência Fernando Haddad (PT) discursa durante ato de campanha em Guarulhos - Marlene Bergamo/Folhapress

Depois de jogar para debaixo de um ônibus as ideias ruins do economista do PT Marcio Pochmann e de sinalizar que o espaço de Dilma Rousseff em seu governo seria o de senadora por Minas, só falta a Fernando Haddad prometer a Gleisi Hoffmann a embaixada do Brasil na Venezuela.

Se passar para o segundo turno, em breve o mais tucano dos petistas vai acabar na cama com a XP Investimentos. Desde já, Haddad procura evitar o mesmo destino da ex-presidente Dilma, de ter de fazer o contrário do que prometeu no pós eleição.

Sob a orientação do pragmatismo de Lula e, ao que parece, de suas próprias convicções e instintos, o ex-prefeito de São Paulo já começou a piscar na direção de quem precisa.

 

Em sabatina Folha/UOL/SBT nesta semana, rasgou elogios ao presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, aplainou o terreno na direção de Ciro Gomes, de tucanos e até do MDB. Segundo ele, haverá espaço em seu governo para todos os que concordarem com o programa.

Como aperitivo do que vem por aí, em carreata há alguns dias em Alagoas com Renan Calheiros Filho (candidato à reeleição no Estado) e o pai “golpista”, Haddad fez em vídeo elogios esfuziantes à dupla emedebista de fazer corar até os mais realistas.

Mas foi o chega para lá na ex-presidente e em Marcio Pochmann que abriu a temporada de caça a eleitores moderados e desconfiados do PT da era Dilma, a pior e mais destruidora fase para a economia desde o lançamento do real.

Economista da Unicamp, Pochmann é um dos autores do plano de governo do PT e vive dando entrevistas com esse chapéu. Entre outras, diz que a reforma da Previdência não é urgente, que é um equívoco achar que ela resolve o problema fiscal e que a idade mínima não é questão central.

Além de frisar que Pochmann é apenas “1 entre 300” que palpitaram no programa do partido, Haddad disse que há pontos a considerar no projeto da Previdência quase pronto para votação na Câmara. E que nada, nem a idade mínima, será tabu na negociação.

Em seu último discurso em São Bernardo do Campo antes de ser preso e ao lado de Gleisi, Lula escondeu Haddad no palanque e exaltou como promessas de futuro os socialistas Guilherme Boulos (Psol) e Manuela d'Ávila (PC do B).

O jogo de cena ajudou a mobilizar petistas raiz e manteve aceso o “Lula Livre”. Ao mesmo tempo, escusou Haddad de ter que radicalizar, o que só complicaria sua vida na busca por eleitores do centro.

Um Haddad “de bem com todos” —sobretudo com um mercado que pode tornar sua vida um inferno— faz sentido e pode viabilizar a derrota de Jair Bolsonaro no segundo turno.

Mas a maior dificuldade à frente do petista talvez seja levar o próprio partido a votar reformas para recolocar o país nos eixos. Se não o fizer, o que convenceria os outros a aprovar medidas impopulares que nem o PT deseja?

Haddad pode querer ir para a cama com o mercado. Mas não será difícil acabar acordando com seu inimigo mais íntimo.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.