Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

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Fernando Canzian
Descrição de chapéu Eleições 2018

Discurso retrógrado pode ganhar sustentação com economia

Setor privado brasileiro há tempos vem se preparando para retomada mais forte

Apesar do gigantesco rombo nas contas públicas, o novo governo assumirá em 2019 com condições macroeconômicas mais favoráveis do que Michel Temer há dois anos. 

Em 2016, a inflação alcançou dois dígitos, o PIB despencava -3,5% e a contabilidade pública estava em ruínas.

Neste ano, o Brasil pode crescer pouco, cerca de 1,5%. Mas não há tarifas públicas represadas e as empresas têm enorme capacidade ociosa para produzir mais sem pressionar a inflação caso a economia reaja. E ela parece pronta para isso.

Notas e moedas de Real - Fotolia

A chave em 2019 será encarar a reforma da Previdência como questão de vida ou morte. Se ela passar, não será difícil o Brasil decolar razoavelmente e ganhar tempo para outras mudanças estruturais.

A última proposta de reforma na Câmara previa economia de R$ 550 bilhões em dez anos. Se algo assim for obtido e o país mantiver o teto dos gastos, impedindo que a despesa pública suba além da inflação (como nas duas últimas décadas), será factível eliminarmos o déficit em alguns anos.

Isso é fundamental, já que credores, como o nome diz, precisam crer. No caso, que serão pagos para continuar financiando um governo que opera no vermelho.

Com a dívida pública saltando ano após ano (+20 pontos em quatro anos, para 77,5% do PIB), o sentimento é de que o país pode quebrar, o que afugenta empresas e consumidores de compromissos de longo prazo.

Nesse momento, só a expectativa de que Jair Bolsonaro (PSL) reforme a Previdência e mantenha o teto dos gastos já estimula a aposta em uma recuperação mais rápida. É o que aparece refletido na Bolsa, com ações em alta antecipando lucros, e na queda do dólar.

O setor privado se prepara para uma retomada mais forte há tempos. E ela só foi abortada porque Temer acabou abatido, em abril de 2017, pelo escândalo da JBS, que drenou seu capital político e enterrou mudanças na Previdência.

É nisso que o mercado aposta agora, sem preconceito em relação a posições de Bolsonaro que autorizam comportamentos reprováveis de alguns de seus eleitores. Trata-se, como sempre, de dinheiro. 

O paradoxo é que, se as coisas começarem a dar certo, a economia poderá sustentar ainda mais esse tipo de coisa.

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