Com turbulências pontuais, os últimos anos foram de tranquilidade nos mercados globais. O Brasil se beneficiou disso e Jair Bolsonaro tem uma janela de oportunidade à frente. Se não aproveitá-la, é capaz que ela bata com força em nossa cara.
Para voltarmos a crescer, é preciso responder a uma pergunta: o Brasil vai quebrar?
A resposta está no setor público. Somando Previdência, funcionalismo e gastos obrigatórios, sobram 10% da receita para tocar a máquina. Se não arrumarmos isso, será inevitável ao governo tomar cada vez mais dinheiro emprestado a juros no mercado.
Isso ampliará a dívida pública e aumentará a bola de neve de R$ 420 bilhões ao ano que o país paga em juros. Rolando, ela já fez a dívida pública crescer 20 pontos (para 77,5% do PIB) em apenas quatro anos.
Das despesas federais, 45% são gastos com Previdência. Se isso for reduzido com a reforma esperada, cairá a necessidade de endividamento do governo e evitaremos uma avalanche.
Nossa janela de oportunidade é que hoje existem trilhões de dólares no mercado internacional atrás de oportunidades, e parte disso é que financia nossos gastos insustentáveis –comprando títulos do governo brasileiro em troca de juros.
Os estrangeiros detêm hoje cerca de R$ 450 bilhões em títulos federais, ou 12% de uma dívida de R$ 3,8 trilhões. Só parece pouco. Sem esse dinheiro, sairia bem mais caro ao governo se financiar.
Esses dólares também entram no Brasil atrás de ações de empresas, o que as ajuda a bancar suas atividades e investimentos. Do volume negociado diariamente na Bolsa, metade é com dinheiro de estrangeiros.
O grande risco à frente é secar esse financiamento ao governo e às empresas, o que seria péssimo para nossa recuperação incipiente.
Isso pode ocorrer porque a economia americana está quente demais, com a inflação em alta. E o mercado já espera que o banco central dos EUA aumente os juros mais agressivamente em 2019 para tornar o custo de financiamentos mais caros por lá, esfriando um pouco as coisas.
Isso levará investidores estrangeiros a comprar mais títulos do governo americano, que estarão pagando juros maiores e que são considerados o investimento mais seguro do mundo.
Logo, haverá menos dinheiro de fora no Brasil.
A aversão em financiar o rombo orçamentário e as empresas brasileiras será tanto maior quanto mais elevado for o buraco nas contas do governo. E quanto maior a dúvida em relação à questão inicial: o Brasil vai quebrar?
Quando se fala em reforma da Previdência, é disso que se trata. De interromper a trajetória de descontrole das contas e dívida públicas, que acaba tendo impacto sobre todo o setor privado, via confiança de investidores estrangeiros e internos na solvência do país.
O governo Jair Bolsonaro e a equipe de Paulo Guedes têm o diagnóstico correto do problema. Agora, terão de convencer 3/5 do Congresso disso e aprovar a Previdência.
O maior risco será nos acostumarmos à calmaria atual enquanto a janela se fecha.
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