Se você fizer a conta de seus rendimentos mensais e somá-los aos dos que vivem com você, talvez se sinta um pouco menos triste hoje. Isso por um lado.
Por outro, consultando o quadro abaixo, constatará como o Brasil é pobre –e deprimente nesse ponto.
Os valores em cada um dos andares da pirâmide (com o percentual de brasileiros em cada um deles) mostram a renda familiar, não individual –o que só torna nossa penúria ainda mais chocante.
O quadro revela, por exemplo, que quase dois terços (64%) dos brasileiros vivem em famílias que passam o mês com menos de R$ 2.994 –o que dá, na melhor das hipóteses, um salário mínimo por cabeça, considerando a média de três indivíduos por família no país.
Mas fica pior. Na base da pirâmide, 42% vivem com menos de R$ 665 por cabeça. Lembrando que o valor familiar de R$ 1.996 ali é o teto de ganhos nesse segmento. Ou seja, a imensa maioria nesse andar passa o mês com menos do que isso.
Prestes a divulgar seu projeto de reforma da Previdência, o governo promete uma campanha de esclarecimento à população. Para convencê-la, bastaria falar a verdade. E acompanhar essa verdade de medidas para tornar as coisas menos injustas. O cenário é o quadro acima.
Radiografia feita pelo Ministério da Fazenda no governo Temer mostra que os 20% mais ricos do país ficam com 40,6% do dinheiro pago pela Previdência a seus beneficiários. Na outra ponta, os 20% mais pobres levam apenas 3,3% do total.
Grande parte da distorção é provocada pelas aposentadorias do setor público, onde os trabalhadores já ganham mais na ativa –cerca de 60% mais, na comparação entre os salários médios nos Executivos federal, estaduais e municipais e os da iniciativa privada (o que põe o funcionalismo na parte superior da pirâmide).
O projeto de reforma do governo prevê que os servidores públicos civis e militares contribuam um mínimo de 25 anos com o sistema (ante 20 no setor privado) e que passem a bancar, com contribuições extras, o déficit de seu sistema exclusivo.
Assim, o rombo no sistema público de Previdência, que paga as maiores pensões, finalmente deixaria de ser coberto pelo Tesouro e rateado com o resto da população.
Entre todos os pontos de resistência à frente da reforma, esse talvez seja o maior, além da teima de boa parte da sociedade (sobretudo da parcela mais rica) em achar o déficit previdenciário não é problema dela.
Aqui, o “dilema Tostines” (o Brasil não cresce porque tem déficit ou tem déficit porque não cresce?) parece ter uma resposta.
Só a expectativa de uma reforma previdenciária e o ajuste mínimo nas contas públicas dos últimos três anos já aliviaram bastante o cenário, que precisa ser consolidado para o Brasil voltar a crescer e empregar.
Se a pirâmide acima já é suficientemente deprimente ao mostrar a renda dos que trabalham, é bom lembrar que há ainda 12 milhões de desempregados e 27 milhões de subutilizados que, se pudessem, trabalhariam mais para ganhar mais.
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