Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

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Bolsonaro e a vizinhança que mata

Presidente e o filho já minimizaram ações de milícias em comunidades

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"O condomínio até que é bom. A vizinhança é que mata” foi uma das tiradas de terça (12) após a prisão dos suspeitos de matar a vereadora Marielle Franco no Rio.

O acusado pelos disparos, Ronnie Lessa, é policial reformado e mora na mesma rua C do condomínio Vivendas da Barra onde o presidente Jair Bolsonaro vivia antes ir para o Alvorada.

Fachada da casa de Ronnie Lessa, ex-PM preso sob a suspeita de ter matado Marielle
Fachada da casa de Ronnie Lessa, ex-PM preso sob a suspeita de ter matado Marielle Franco - Cátia Seabra/Folhapress

O outro acusado, que estaria ao volante do Cobalt, é o ex-PM Elcio de Vieira Queiroz, que aparece em uma foto de 2011 ao lado de Bolsonaro.

O presidente não tem culpa pela vizinhança e disse que já tirou milhares de fotos com PMs. Sobre as investigações, afirmou que "o mais importante" seria descobrir "quem mandou matar”.

Em seus discursos políticos, Bolsonaro e um de seus filhos já minimizaram ações de milícias formadas por PMs no Rio e exaltaram suspeitos de crimes.

Flávio Bolsonaro mantinha até novembro como funcionárias em seu gabinete na Assembleia do Rio a mãe e a mulher de Adriano da Nóbrega, um ex-PM suspeito de comandar milícia que sequestrava e assassinava na zona oeste do Rio.

Hoje foragido, Nóbrega estava preso quando foi homenageado em 2005 por Flávio com a Medalha Tiradentes, mais alta honraria da Alerj. Já Bolsonaro pai afirmou em discurso na Câmara dos Deputados que Nóbrega era um “brilhante oficial”.

A investigação agora em curso apura se o Lessa vizinho de Bolsonaro atuava junto com o Nóbrega miliciano homenageado por Flávio no grupo conhecido como Escritório do Crime. 

PM reformado Ronnie Lessa, que teria efetuado disparos contra Marielle, e o ex-policial Élcio Queiroz, acusado de dirigir o carro do atirador
PM reformado Ronnie Lessa, que teria efetuado disparos contra Marielle, e o ex-policial Élcio Queiroz, acusado de dirigir o carro do atirador - Reprodução

Quando era deputado federal, Bolsonaro chegou a criticar a CPI das Milícias, promovida pela Alerj em 2008. Na ocasião, disse que alguns PMs são confundidos com milicianos só porque organizam a segurança de comunidades.

Segundo pesquisa Datafolha de fevereiro, a população que vive nessas áreas do Rio coloca os milicianos no topo de seus temores —29% dizem ter medo deles, ante os 25% que temem mais o tráfico e 18%, a polícia.

Bolsonaro foi deputado federal pelo Rio por sete mandatos, entre 1991 e 2018. No ano passado, o estado o elegeu com 68% dos votos e a capital, com 66% —acima dos 55% da média nacional.

No mesmo pleito, também foi eleito deputado estadual mais votado Rodrigo Amorim, pelo PSL de Bolsonaro. Seu grande momento na campanha foi rasgar uma placa em homenagem a Marielle ao lado do agora governador, Wilson Witzel, aliado do presidente.

O Rio até que é lindo. Mas parece que a eleição é que mata.

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