Apesar de sua capacidade intrínseca de gerar crises, Jair Bolsonaro pode até pensar que é um cara de sorte.
Mesmo atrapalhando, a Câmara vai encaminhando, sob a liderança de Rodrigo Maia, as mudanças na Previdência e já se prepara para enfrentar a reforma tributária.
Depois de derrubar a capitalização de Paulo Guedes na Previdência, o Congresso ignorou a proposta tributária do secretário da Receita, Marcos Cintra, e toca projeto apresentado pelo deputado Baleia Rossi (MDB-SP), cópia das ideias do economista Bernard Appy.
Se as agendas previdenciária e tributária avançarem, o governo poderá ser beneficiado com a melhora nas expectativas e na percepção de risco dos mercados –fatores que podem desaguar favoravelmente na economia.
Embora ainda haja grande dúvida em relação à solvência das contas públicas, isso pode ser minimizado com a Previdência e há outros elementos que sugerem espaço para alguma retomada.
O desemprego está alto, as contas externas estão em ordem e há enorme capacidade ociosa nas empresas, o que possibilitaria crescer sem inflação.
Nesse sentido, o governo também poderá contar com alguma ajuda externa. Paradoxalmente, por conta de dúvidas crescentes sobre o vigor europeu e norte-americano.
Diante da fraqueza das 19 economias da zona do euro, o Banco Central Europeu sinaliza que adotará medidas para aumentar a quantidade de dinheiro na segunda maior área econômica do mundo. O movimento pode vir acompanhado pelo banco central dos EUA, que deve segurar por um bom tempo –ou mesmo reduzir– os juros.
O aumento de liquidez (dinheiro) nessas duas regiões tende a “vazar” para outros mercados, reforçando um cenário já benigno no Brasil, de Bolsa em alta e dólar em baixa. Os dois movimentos ajudam 1. na capitalização de empresas de capital aberto e 2. a segurar a inflação, já que produtos importados, pagos em dólar, ficam mais baratos.
Com ridículos 2,5% de participação na produção de bens e serviços globais, o Brasil pode ser pouco afetado se o cenário for de esfriamento apenas moderado lá fora, sobretudo se a China continuar comendo carne e soja –o que é difícil de evitar.
Bolsonaro pode ajudar muito esse cenário se não atrapalhar. Se vai se beneficiar “de bandeja” da boa vontade dos parlamentares, o tempo dirá. Mas o golpe que levou do Senado ao ter rejeitado seu decreto sobre armas é sinal de que pode ter surpresas políticas desagradáveis à frente.
Se a vingança é um prato que se come frio, a velha guarda do Congresso pode estar preparando algo para por no freezer.
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