Após a alta de 1% prevista para o PIB neste ano, o Brasil pode crescer 2% em 2020. Parece pouco, mas há mudanças estruturais que tornam esses números interessantes.
A partir de 2017, o Brasil passou por um grande ajuste. Em resumo, o setor público e seu gasto crescente tirou o time de campo, diminuindo nossa “Estado-dependência”, enquanto o setor privado começou a entrar.
O baixo crescimento desde então ainda reflete a desconfiança com que empresas e consumidores pisam no novo gramado. Mas isso está mudando.
No segundo trimestre, enquanto o PIB do setor público encolheu 1,6%, o do setor privado subiu 1,7%. Na média, a economia cresceu 1%. Como o gasto público representa cerca de 40% do PIB, é boa notícia o Brasil crescer, mesmo que pouco, apoiado na atividade privada.
Com o setor público gastando menos a partir de 2017, houve uma diminuição geral na atividade e a inflação caiu, o que permitiu a queda dos juros. Sem mais grandes opções de ganho fácil com os juros, empresas e investidores procuram alternativas para remunerar seu dinheiro.
Muitos começam a pensar em investir no próprio negócio ou na Bolsa, que vem batendo recordes e financia o setor produtivo. Outros, em imóveis, com lançamentos crescentes que já impactam positivamente no emprego.
Se esse ciclo ganhar força, e parece que vai, a recuperação tende a acelerar. Desta vez, sem o anabolizante do gasto público crescente, que quase levou o país à falência.
Não é exagero afirmar que o Brasil nunca viveu com tanta ênfase uma mudança desse tipo. O padrão vinha sendo gastos públicos crescendo acima do PIB durante décadas e financiados pelo aumento da carga tributária.
Essa história teve sucesso do ponto de vista da universalização de serviços de saúde e educação, mas limitou o crescimento e a criação de empregos, jogando o país em crises cada vez mais graves.
Pior, chegou a um ponto em que não havia mais saída, a não ser continuar aumentando sem parar o endividamento público até a insolvência.
Sem desmontar a rede pública de educação e saúde vigente, e continuar corrigindo seus gastos pela inflação, o que o setor público precisa é de mais eficiência, o que deve ser buscado a partir de agora –aprovada a Previdência– por uma reforma administrativa.
Outras frentes deveriam ser políticas específicas contra a pobreza extrema, como reforçar o Bolsa Família, e a desigualdade de renda. Nesse ponto, a reforma da Previdência e mudanças nas regras de remuneração e promoções no setor público tendem a contribuir.
Faltaria tornar menos regressiva a carga tributária, que penaliza os mais pobres ao incidir proporcionalmente mais sobre o consumo do que sobre ganhos financeiros.
A agenda é extensa e a grande dúvida é se as confusões autoinflingidas de Jair Bolsonaro darão conta dela.
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