Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu

Delivery de qualquer coisa

Quando me dei conta, estava viciada em aplicativos de entrega

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Aconteceu. Resolvi experimentar só uma vez, para ver como era e gostei. Na mesma noite, bateu vontade de repetir. Só mais uma vez, como uso recreativo. No dia seguinte, bateu um desespero. Precisava de mais. Quando me dei conta, estava viciada em aplicativos de entrega.

Hoje quase tudo está a um clique no celular. De supermercado a manicures. De eletricista a goleiro. Outro dia, estava navegando em um aplicativo e encontrei a opção “mágico”. Sim, entregam até mágico na sua casa. É lógico que, em pouco tempo, será preciso chamar, também pelo app, alguém para tirar ele de lá. Mas é outra história.

 
Ilustração
Galvão Bertazzi/Folhapress

Eu, que comecei com uma inocente pizza, já pedi cartucho de impressora, reconhecimento de firma em cartório e absorvente —embora o entregador tenha ligado três vezes para conferir se era com abas, cobertura seca ou fluxo intenso. 

Já encomendei até dólares para uma viagem. Sim, eles também entregam dinheiro, o que me faz pensar que, em caso de sequestro, não é preciso mais causar transtorno aos familiares. É só colocar o endereço do cativeiro, entregar o valor do resgate ao sequestrador e voltar, também com app, para casa.

Em breve, o céu será o limite —se bem que a Amazon já faz entregas com drones. Quem mora sozinho poderá chamar alguém para segurar o banco enquanto rosqueia uma lâmpada, ver se um quadro está torto e dar um nó de gravata ou ajudar a fechar um vestido.

Para que sair de casa e ir a eventos desnecessários? Com um clique, mandaremos um representante para reuniões familiares e noites de autógrafos de colegas. Os pais não precisarão mais encarar as enfadonhas festas infantis, pois entregarão e retirarão os filhos pelo app. 

Presentes de aniversário e casamento serão substituídos por vales e créditos enviados diretamente para o app, por convidados que enviarão um representante para ir à festa e pegar o buquê no lugar deles, também por apps. Até entrarmos em um looping infinito, recebendo e gastando créditos e pedindo tudo por aplicativos. “Cadê Flávia que nunca mais vi?” “Menina, ela está há dez anos isolada da sociedade, mergulhada nos pedidos de app. E acredita que a porta de entrada foi a pizza?”

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