Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu

Problemas ginecológicos

Vamos fazer neném?, perguntava o médico sempre que eu ia ao consultório

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“Veste a camisolinha que o doutor já está vindo.” Não existe roupa mais humilhante do que camisola de ginecologista. O tecido, quase transparente, é uma forma de nos sentirmos nuas mesmo vestidas. “Pode deitar. Encaixa os pés aqui. Bumbum um pouquinho mais para a frente.” A enfermeira coloca um paninho nas vergonhas. Como se o grande problema ali fosse expor as vergonhas. Mesmo porque o paninho também é transparente, então elas continuam expostas.

Desde muito cedo que nós, mulheres, vamos ao ginecologista. Por mais que tentemos nos acostumar, ainda achamos peculiar deitarmos naquela posição vexatória.  Isso enquanto um estranho introduz um espéculo para observar o que temos entre as pernas. Quando junta o constrangimento com a falta de tato do médico, uma consulta pode virar um momento bem embaraçoso.

Meu primeiro ginecologista era um profissional sensível que gostava de expressar suas emoções. Logo que nos conhecemos, ele gritou, entre meus dois joelhos: “Nossa, que colo do útero lindão!”. Outra vez, ele observou um exame de imagem e comentou: “Nunca vi um cisto tão grande. Nossa, que coisa”.

Ilustração
Galvão Bertazzi/Folhapress

Ainda jovem e solteira, passei por uma médica que misturava paranoia com moralismo. “Você não imagina a quantidade de doença circulando por aí”, avisava ela, insistindo para que eu arrumasse um parceiro fixo. 
Já outro, sempre que eu pisava no consultório, perguntava: “Vamos fazer neném?”. Quando completei 33 anos, ele comentou que estava muito preocupado, pois em breve eu seria uma “grávida idosa”. Como se parir fosse obrigação de toda mulher. 

O constrangimento é ainda maior com as homossexuais. O ginecologista de uma amiga falou que ela não precisaria voltar ao consultório, pois “lésbica não engravida nem pega doença”. Informação, além de equivocada, discriminatória.

Uma pesquisa feita pelo Datafolha indica que 20% das brasileiras acima dos 16 anos não costumam ir ao 
ginecologista. 

As razões vão desde dificuldade de acesso à falta de informação e medo da exposição. Se depender da falta de tato de muitos desses profissionais, infelizmente, motivos não faltam para adiarmos a próxima consulta.

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