Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu
Coronavírus

O Capitão Corona sofre do mesmo narcisismo dos piores vilões

Sem o carisma de Lex Luthor e tão incompetente quanto o Esqueleto, de 'He-Man'

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Morava nos pântanos alagados da Barra da Tijuca uma das maiores ameaças de Tropicalópolis.

Essa mente malfeitora começou provocando danos isolados, como planejar explodir quartéis e ser um deputado insignificante. Mas os tropicalenses, impulsionados por um conservadorismo liberal sem sentido, o alçaram ao posto de presidente.

Ilustração de Jair Bolsonaro com a faixa presidencial e uma coroa flutuante cercado de figuras. Em destaque, Olavo de Carvalho está em seu ombro e segura uma máscara descartável que tapa os olhos de Bolsonaro, Abraham Weintraub em um corpo de gato está nos braços de Jair e um cérbero com as cabeças de seus filhos posiciado a frente dele. Ao redor desta cena, há vírus no ar, pessoas fazendo reverência, uma segurando um cartaz onde se lê “MITO”, uma com uma bandeira do Brasil e uma bíblia no chão.
Galvão Bertazzi/Folhapress

O que não poderia ficar pior ficou. A chegada de um vírus letal vindo da China transformou o ordinário ex-capitão em um dos maiores vilões já vistos, não só em Tropicalópolis, mas em todo o planeta Terra. Pelos grandes jornais, recebeu a alcunha de Capitão Corona.

Sem o carisma de Lex Luthor, tão incompetente quanto o Esqueleto, de “He-Man”, e mais imaturo que o Capitão Feio da “Turma da Mônica”, Capitão Corona sofre do mesmo narcisismo dos piores vilões.

Assim como a Rainha Má de “Branca de Neve”, ele se olha no espelho diariamente, se perguntando: “Existe alguém que manda mais do que eu?”. A resposta é sempre sim.

Como um flautista de Hamelin, esse mentecapto consegue hipnotizar hordas de seguidores com as ideias mais estapafúrdias. Ele já convenceu multidões a fazer jejum pelo fim da epidemia e que o coronavírus é uma arma chinesa para implantar o comunismo no mundo.

Direto do Gabinete do Ódio, seus filhos, versões do Robin do mal, disparam fake news e ofensas a desafetos. Até seu aliado, o ministro da Saúde, responsável por combater a epidemia, foi linchado por seus robôs digitais.

Outro superpoder é o da transformação. Ao seu lado, João Doria se torna um grande estadista, e Donald Trump se parece com Winston Churchill. Até o Capitão Daciolo vira uma opção viável perto do Capitão Corona.

Essa mente do mal também sabe criar situações cômicas involuntárias, como quando usou teleprompter para um pronunciamento sobre a epidemia. Sua performance robótica fez a rainha
Elizabeth, nos seus quase 94 anos, parecer William Bonner ao fazer o mesmo.

Mas, como todo vilão, o Capitão Corona tem um ponto fraco: a burrice. Foi só ele ouvir as palavras “ciência”, “disciplina” e “planejamento”, que apareceu com cara de criança que teve seu pirulito sabor cloroquina roubado. Depois se retirou, repetindo mentalmente o mantra dos mais patéticos vilões: “Eu voltarei”.

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