Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu

Levei block do presidente, mas eu também queria bloqueá-lo da minha vida

Por que não podemos perguntar sobre os cheques de Queiroz a Michelle?

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“@jairbolsonaro bloqueou você.” Foi a mensagem que encontrei no lugar do perfil do presidente no Twitter quando fui conferir o pronunciamento do Dia da Independência. Estou impedida de seguir e ver os tuítes do Bolsonaro.

Levei block do presidente.

Ilustração de um passarinha azul fazendo uma bolha de sabão e dentro dela há três pessoas olhando para seus respectivos celulares
Galvão Bertazzi/Folhapress

Não que seja um acontecimento trágico. Ser bloqueada pelo Bolsonaro está mais para recompensa do que punição. É melhor do que ser expulsa do grupo de pais da escola. Ou não ser convidada para encontro de ex-colegas da escola no karaoke. É o meme da Joelma triste, mas feliz.

Mas fiquei ensimesmada. O que eu teria feito para magoar o presidente? Seria um tuíte sobre os R$ 89 mil que Michelle recebeu do Queiroz? Ou o reply perguntando se tinha um adulto na equipe do presidente?

Fui procurar pelo pronunciamento do presidente em outros canais. Ele citou o sangue de brasileiros derramado por liberdade e reiterou seu compromisso com a democracia. Achei curioso. O que
entende o capitão dessas duas palavras, se é incapaz de receber críticas pelo Twitter?

Bolsonaro já chamou gente de estrume, repórter de otário e acusou jornalista de querer dar o furo. Por que não podemos perguntar sobre os cheques de Queiroz a Michelle?

Um presidente não governa apenas para seus eleitores, mas para todos. Ao bloquear seguidores, ele está privando-os de informações sobre o seu governo, que impactam não só seus eleitores, mas qualquer cidadão. É a tal democracia citada no seu pronunciamento.

Se Bolsonaro acha que pode bloquear cidadãos, eu também teria o direito de bloqueá-lo da minha vida.

Eliminaria qualquer sinal de bolsonarismo da minha existência. Me privaria do acesso a rádio e TV aberta. Qualquer um que citasse o nome do presidente seria bloqueado.

O primo que votou 17? Levaria block. A tia que “pelo menos não foi o PT”. Block. O vizinho se chama Jair? Block! A sobrinha fez 17 anos? Block!

Fundaria uma sociedade alternativa só de pessoas que também bloqueassem o Bolsonaro de suas vidas. Chamaria Movimento Brasil Livre de Bolsonaro. Até um dos integrantes lembrar que o nome lembra outro movimento, que elegeu o presidente. E eu seria bloqueada do meu próprio movimento.

E a lição que a gente tiraria dessa história viria como uma pergunta: por que Michelle Bolsonaro recebeu R$ 89 mil do Queiroz?

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