Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu maternidade

Meu puerpério foi duplo e, somando a pandemia, foi um puerpério ao cubo

A quarentena acaba com a rede de apoio, e pais recentes ficam isolados com bebês

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Foram sete meses em um dos trabalhos mais intensos e exaustivos da minha vida. Há algumas semanas, com o fim da minha licença, consegui ver com clareza que superei a fase mais dura da maternidade.

Agora, sim, posso dizer: Sobrevivi ao puerpério na pandemia.

Como o governo decretou a quarentena exatamente no dia em que meus filhos nasceram, sou uma das primeiras sobreviventes. Digo "filhos", porque são gêmeos. Meu puerpério foi duplo. Somando a quarentena, foi um puerpério ao cubo.

Ilustração de mulher soltando fogo pela boca e segurandoois bebês no colo
Galvão Bertazzi/Folhapress

Falando em linhas tortas, puerpério é a fase pós-parto em que o corpo da mulher se adapta ao fato de não ter um ser humano dentro dele para, agora, manter esse ser vivo.

Isso após um exaustivo trabalho de parto. E depois nos jogam para fora do hospital carregando um bebê, um pacotinho vivo com a mesma consistência de um slime, mas sem manual de instruções.

Soma-se à amamentação e às noites mal dormidas. Descobri que o método de tortura de privação de sono realmente funciona. Eu confessaria qualquer coisa e entregaria até os bebês.

Acrescente mais um novo elemento: a quarentena. Com ela, não existe mais rede de apoio. Os pais recentes estão basicamente isolados com seus bebês. É um "BBB" de bebês. Um "BBBbb", mas sem o Tiago Leifert para dizer "vem ser feliz aqui de fora". Não é à toa que a inteligência emocional da puérpera cai ao mesmo nível de um diabo da Tasmânia.

No meu pós-parto, briguei com enfermeiras, marido, mãe, sogra e irmãs. Quando ofereciam ajuda, virava o pescoço, como a personagem de "O Exorcista", gritando: "Lógico que preciso de ajuda! Não precisa perguntar!".

Cheguei ao ponto de insultar outras mães de um grupo de apoio, após ser criticada por usar mamadeira. Chamei-as de hippies brancas e perguntei se não queriam cuidar dos bebês na madrugada.

Quando achava que nunca mais sairia do looping "mamar, arrotar, trocar fralda, ninar", surgiu um sorrisinho, uma troca de olhares, um prazer em cheirar a cabecinha, e senti que valeu a pena.

Para vocês, mulheres no pós-parto que enfrentam esse tsunami de emoções, segue a mensagem que recebi de uma mãe do grupo de apoio, mesmo após minhas palavras desaforentas: Puerpério na quarentena não é fácil, mas vai passar. Sintam-se abraçadas.

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