Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu

Gandhi certamente estaria brigando pelo WhatsApp se estivesse vivo e no Brasil

Até desejar bom dia pode transformar um grupo de amigos num campo de batalha

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A pandemia completou um ano e, pelo menos no Brasil, é difícil que as coisas melhorem nos próximos meses. Diante do atual cenário, o maior sinal de sanidade é não estar são. Qualquer pessoa equilibrada está à beira de um ataque de nervos.

O pouco convívio social também nos tirou qualquer habilidade de manter conversas civilizadas. Basta ver as caixas de comentários nas redes sociais. Qualquer post ameno vira um ringue de ofensas gratuitas. Se Gandhi estivesse vivo no Brasil, certamente estaria brigando pelo WhatsApp.

Até uma mensagem de bom dia pode transformar um grupo de amigos em um campo de batalha. Para provar meu ponto, mandei um “bom dia” para um dos meus grupos:

Eu: “Bom dia”.

Rê: “Bom dia”.

Felipinho: “A gente tinha combinado que não podia dar bom dia nesse grupo”.

Ava: “E por que bom dia e não boa dia? Quem decidiu que o dia é homem?”.

Beto: “Ai Deus”.

Ava: “E quem decidiu que deus é homem? Por que não deusa? Ou Jesusa Crista?”.

Beto: “Jesusa Crista? Aí já é demais!”.

Renata: “Galera, por que a gente não fala “bom die”? Aí ficamos quites”.

Beto: “Deus, me ajude”.

Ava: “É Deusa”.

Vivi: “Quando vejo alguém dando bom dia, me dá gatilho. Meus dias estão péssimos”.

Felipinho: “Agora tudo é gatilho? Não dá nem para comer um churrasco que dá gatilho”.

Vivi: “Churrasco dá gatilho, sim. Quem não tem churrasqueira, fica como?”.

Felipinho: “Assa a carne no forno, ué”.

mulher espia entre os dedos o celular que segura pegar fogo
Ilustração de Galvão Bertazzi para a coluna de Flávia Boggio de 25 de março de 2021 - Galvão Bertazzi/Folhapress

Vivi: “E quem não tem forno?”.

Felipinho: “Faz uma fogueira”.

Ava: “Você sabia que grande parte dos incêndios é causada por fogueiras?”.

Felipinho: “Só tem militante nesse grupo?”.

Ava: “Se não gosta, a porta é serventia da casa”.

Felipinho saiu.

Paulão: “Pessoal, ele só está falando que dá para fazer churrasco em qualquer lugar”.

Beto: “Como o que você fez na Baleia, Paulão?”

Paulão: “Foi uma coisa íntima”.

Beto: “Vi no seu Insta umas 20 pessoas nesse churrasco”.

Paulão: “Você reclama do meu churrasco, mas segue firme e forte com seu futebolzinho. Enfim, a hipocrisia”.

Beto: “Pelo menos eu não elegi um genocida”.

Paulão: “Eu votei nulo”.

Beto: “Então elegeu”.

Paulão: “Pelo menos não sou petralha”.

Rê: “Pessoal, o combinado é que não era para falar de política?”

Vivi: “Achei que não pudesse dar bom dia”.

Rê: “Política também não pode”.

Beto: Então, a gente vai falar do quê?

​[....]

Vivi: “Galera, tô atrasada pra um compromisso. Bom dia”.

Beto: “Bom dia”.

Paulão: “Bom dia”.

Ava: “Boa dia”.

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