Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu

Conheça o isentonês, dialeto dos que não se posicionam politicamente

Não ser de esquerda nem de direita é, na tradução, ter medo de que o país vire uma ditadura comunista chinesa

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Com as mais de 500 mil mortes por Covid, fica difícil viver no Brasil sem se posicionar politicamente. De um lado estão os enfurecidos com um governo que despreza a vida, o meio ambiente e as instituições democráticas.

Do outro está uma parcela de pessoas que, por algum transtorno patológico, ainda acreditam que o governo esteja fazendo um bom governo.

E existe um grupo que, mesmo com milhares de vidas perdidas para a pandemia e com grande parte da população voltando à miséria, acredita que o problema do país não é político. São os já conhecidos isentões.

O que se descobriu, recentemente, é que essa espécie tem até um dialeto: o isentonês.

Ilustração de uma pessoa sentada em uma cadeira dobrável em cima de um muro, ela segura um caneca e diz 'Será que chove?'. Há fogo em volta do muro e prédios ao fundo.
Publicada nesta quarta-feira, 23 de junho de 2021 - Galvão Bertazzi/Folhapress

Assim como o tucanês e o lulês, apontado com maestria pelo colunista José Simão, essa língua pode ser rapidamente identificada e traduzida. Confira algumas das expressões mais ouvidas nas ruas desse novo dialeto, o isentonês.

"Não sou de esquerda nem de direita": verbete muito popular entre os isentões, na tradução significa "sou de direita e tenho medo de que o país vire uma ditadura comunista chinesa e que o PT tome posse da minha casa na Vila Uberabinha".

"Não sou obrigado a ter opinião sobre tudo": em português quer dizer "tenho opinião que adquiri lendo notícias recebidas no Zap pelos meus amigos, marmanjos que moram com a mãe, e essa opinião é a favor do governo".

"Não é hora de apontar culpados": sentença com origem no grego, significa "votei no Bolsonaro e tento fingir que não sou culpado pelo desastre em que o país se transformou tomando uma boa taça de vinho na minha casa em Campos do Jordão".

"Eu me indigno, mas sou capaz de virar tudo pelo avesso e acender uma luz para brilhar a escuridão": verbete usado pela cantora Cláudia Leitte, fluente em isentonês, quer dizer "estou pagando de 'gratiluz', mas uso frases cafonas e sem nexo para disfarçar o fato de que apoio esse governo".

"Não é sobre partidos, é sobre humanidade": expressão que ficou popular por outra cantora, Ivete Sangalo. Quer dizer "mesmo com dinheiro suficiente para deixar meus bisnetos milionários, ainda me preocupo com os contratos publicitários que posso perder se me posicionar. Então dane-se o país".

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