No começo da semana, o jornalista e colunista da Folha Reinaldo Azevedo cometeu um equívoco e levou a sério uma postagem do perfil de humor Coronel Siqueira. A conta do Twitter satiriza o pensamento da direita conservadora do Brasil, apoiadora do governo Bolsonaro.
No tuíte, o “coronel” associava positivamente a política armamentista do governo aos atentados de Araçatuba. “Como essa quadrilha de Araçatuba iria praticar o seu crime se não fossem os fuzis? Jogando feijão nas pessoas?”
O jornalista não percebeu que era uma sátira e chamou o “coronel” de “delinquente intelectual do bolsonarismo”. Ao descobrir que o perfil era de humor, Reinaldo Azevedo apagou a resposta, mas já era tarde demais. O print do comentário já circulava pelas redes sociais.
Não culpo o jornalista por cair em um tuíte falso. Hoje em dia, é quase impossível saber o que é piada ou não. O Brasil real é o maior concorrente de qualquer conteúdo de humor.
“Ricardo Salles convoca ‘quem tem vergonha na cara’ a ir às ruas em 7 de setembro.”
Qualquer pessoa desavisada que passar o olho por essa manchete pode achar que trata-se do melhor material humorístico. Se seguisse o seu conselho, o ex-ministro do Meio Ambiente, um autêntico exemplar de quem não tem vergonha na cara, seria o primeiro a não ir às manifestações.
“Com duas armas em punho, Roberto Jefferson se autoproclama ‘soldado da liberdade’, chama embaixador chinês de ‘malandro’ e pede para Bolsonaro mandá-lo embora.”
Quem iria imaginar que um dos pivôs do escândalo do mensalão do governo Lula chamaria alguém de “malandro” e se tornaria um agente bolsonarista defensor da “liberdade”? Uma pessoa em sã consciência vai achar que é uma piada de salão.
“Alexandre Garcia compara o uso de máscaras às burcas do Afeganistão.”
Quem ler essa notícia pode acreditar que se trata de uma excelente peça satírica. Seria o quadro Liberdade de Opinião uma grande pegadinha que ainda não foi revelada? Mas não, era um conteúdo da CNN Brasil.
E assim, esse desgoverno nos tira mais um bem precioso. Como se não bastasse a dignidade, a bandeira e o Sete de Setembro, também nos levaram a ironia.
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