Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu
inflação

No Brasil de Bolsonaro, dizer 'para seu governo' não faz mais sentido

'Descascar abacaxi' e 'custar os olhos da cara' são outras expressões que, com a atual inflação, significam o inverso

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A língua portuguesa tem sido alvo de um amplo debate sobre o sentido de alguns termos e expressões. Para especialistas, algumas frases de uso comum entre os países lusófonos fazem referência a grupos minoritários, tratando-os de forma pejorativa.

Após um revisionismo histórico e linguístico, expressões como "denegrir" e "pé na cozinha" foram excluídas por serem associadas ao racismo estrutural. Outras como "não sou tuas negas" e "da cor do pecado" estão menos para idiomáticas e mais para idiotas.

Consideradas machistas, sentenças como "mal-amada" e "essa é para casar" também foram sentenciadas ao cancelamento, embora ainda sejam usadas com afinco por todos os tios no Natal.

Ilustração de uma mulher com cabelos escuros na altura dos ombros vestindo blusa rosa. Ela está com a boca aberta e vários balões de fala saem dela. É possível ler 'BLA' 'blé', 'bli', 'BLO' em alguns deles.
Ilustração publicada em 9 de junho de 2022 - Galvão Bertazzi

Como a linguagem está em constante transformação, outras expressões correm o risco de serem excluídas, ou por serem ofensivas ou por não fazerem mais sentido.

Antes usada para descrever indivíduos que frequentam todos os eventos, o termo "arroz de festa" caiu em desuso. Com o preço da cesta básica, o item é raridade e desejado em qualquer celebração.

Da mesma forma, "descascar abacaxi", antigamente usada para descrever um problema difícil, com o preço da fruta, hoje é sinônimo de prazer e satisfação.

"Custar os olhos da cara" também perdeu o sentido. Diante da crise atual, qualquer cidadão está disposto a vender os olhos e a cara por preços baixos.

Por soar xenofóbica, muitos passaram a evitar o termo "negócio da China". Mesmo porque, nos dias de hoje, fazer transações comerciais com o gigante asiático tem sido um excelente negócio.

Outra expressão que envelheceu mal foi "armado até os dentes". Hoje o cidadão pode até ter facilidade de andar armado, mas, com as políticas de saúde precárias, está completamente sem dentes.

O termo "pai presente" também caiu em desuso pois, na maioria das famílias do país, o sujeito raramente está presente, muito menos traz presentes.

O dito "a cobra vai fumar" ficou desatualizado. Antes usado para se referir a algo impossível, com a situação que está o país, é compreensível que a cobra esteja fumando e muito.

Assim como a expressão "para seu governo", que também foi extinta do vocabulário. Todos sabem que, há mais de 1.200 dias, não existe mais governo por aqui.

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