Flavia Lima

Repórter especializada em economia, é formada em ciências sociais pela USP e em direito pelo Mackenzie. Foi ombudsman da Folha de maio de 2019 a maio de 2021.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Flavia Lima

As dores da transformação

Fim de serviços no papel tem que ser o menos traumático possível ao leitor

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Para muitos leitores da Folha, a referência essencial ainda é o jornal impresso.

Nesse universo de papel, há um conjunto de serviços que, para um grupo significativo de leitores, não deveria ser prestado por outros meios. 

A lista de filmes e cinemas da Ilustrada era um deles. No sábado (25), a Folha anunciou o fim da seção Acontece, que circulava apenas em São Paulo, na Ilustrada.

"Gostaria de pedir que, em respeito aos assinantes e leitores de longa data, voltasse à Ilustrada a relação de cinemas e filmes e sinopses diárias. Não saio de casa sem ela", diz Heloísa Fonseca de Arruda.

Carvall

"Estou estupefato! Vocês cortaram a relação dos filmes em exibição na cidade de São Paulo? É claro que podemos procurar na internet, porém ler na Ilustrada é mais prazeroso. Depois dos filmes, vocês cortarão os críticos de cinema e artes, depois cortarão...", diz o leitor Francisco José Bedê e Castro, dando a entender que os cortes seguirão.

Não é a primeira vez que a Folha anuncia o fim de um serviço no papel. Isso costuma ocorrer em épocas de crise, pois papel custa dinheiro.

O preço do papel jornal caiu em maio, mas ainda está 1% acima de maio de 2018, diz a consultoria Fastmarkets RISI.

Historicamente, no entanto, os preços e o volume negociado desse tipo de papel estão em declínio, em linha com as transformações do setor.

O secretário de Redação Vinicius Mota diz que o caderno impresso da Ilustrada optou por oferecer ao leitor um resumo do que há de melhor na programação diária da cidade na Folha Corrida, a contracapa do caderno Cotidiano.

E que toda a programação está disponível no Guia da Folha, um roteiro com as principais atrações da cidade publicado sempre às sextas-feiras.

Ao menos no papel, diz a leitora Eliana, o Guia não contém as informações referentes à quinta-feira, quando muda toda a programação de filmes.

Como as estreias no cinema (que acontecem às quintas) só são divulgadas pelas salas de exibição às quartas, não dá tempo de o Guia da Folha incluir as novidades. Não seria o caso de mudar a data de publicação do Guia?

O secretário de Redação diz também que o Guia atualiza em tempo real a programação no seu site.

Ok, o número de exemplares impressos está em declínio e há até os que preveem a data exata da sua extinção (2043, na estimativa do jornalista americano Philip Meyer). 

A Folha sabe que o presente é digital e o leitor mais afeito ao papel parece que vai ter que se acostumar às mudanças.

Mas, se não é possível poupar o leitor de penosas alterações em sua rotina, o jornal precisa cuidar para que as novidades sejam o menos traumáticas possível.

O leitor Emmanuel Dias faz algumas críticas à experiência de ler o conteúdo do jornal fora do papel. Ele não se refere especificamente às alterações feitas no caderno cultural, mas o que ele diz pode ser usado como uma referência dos cuidados que o jornal deve ter para tornar a leitura digital mais agradável.

Segundo o leitor, quando está fora do domicílio de sua assinatura, ele tenta ler a Folha no celular ou no tablet, mas acha a experiência trabalhosa.

Ele diz que na versão da Folha em que matérias e artigos aparecem listados conforme seus cadernos e editorias, lê uma notícia e não consegue passar para a seguinte, voltando sempre para a home.

Reclama também de que o aplicativo pede sempre que reinsira a senha, ainda que acesse o jornal do mesmo aparelho, o que o faz perder tempo. "Às vezes, não lembro a senha e fico sem ler o jornal", diz.

Mota diz que os problemas de login para ler a versão do jornal em PDF estão em fase de correção, bem como a usabilidade da lista de textos da versão impressa nos aplicativos nativos para iOs e Android.

Em circulação total, a Folha registrou 332.415 exemplares diários na medição mais recente feita pelo IVC Brasil (Instituto Verificador de Comunicação).

Os exemplares impressos são cerca de um terço desse total (100.024). Ou seja, não há como desprezar os assinantes que leem a Folha no papel.

Há outros exemplos de serviços prestados pelo jornal ligados a um modo de organização cuja transformação não tem agradado aos leitores.

A dinâmica dos anúncios fúnebres gratuitos é um deles. Para fazer o anúncio, publicado em Cotidiano, o leitor agora precisa preencher um formulário eletrônico —e isso tem causado dor de cabeça.

Antes, os leitores eram atendidos por telefone.

Segundo o Manual, a Folha precisa seguir adaptando-se às inovações tecnológicas e às necessidades do leitorado, levando o conteúdo do jornal —o que inclui seus serviços— aonde o leitor estiver.

Tudo isso exige investimentos. Se a ideia é se manter entre os mais importantes jornais do país não há outro caminho para a Folha.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.