Flavia Lima.

Repórter de Mercado, formada em ciências sociais pela USP e em direito pelo Mackenzie.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Flavia Lima.

Oitenta tiros numa nação

Morte de músico no Rio deveria chocar por si só, mas parte da sociedade silencia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Militares acertaram 80 disparos em carro em que estava o músico Evaldo Rosa dos Santos
Militares acertaram 80 disparos em carro em que estava o músico Evaldo Rosa dos Santos - Fabio Texeira/Reuters

O Estado brasileiro deveria deter o monopólio da violência para proteger a população, mas, muitas vezes, insiste em usar esse recurso contra o seu povo, de forma ilegítima.

Rotineiramente, guarda-chuvas são confundidos com armas, e veículos a passeio, tidos por carros roubados. Situações que acabam em tragédia para muitas famílias —embora devessem ser consideradas como o drama de toda uma nação.

No domingo (7), no Rio de Janeiro, foi a vez de Evaldo Rosa dos Santos. Militares do Exército dispararam 80 tiros contra o carro no qual Santos levava a sua família, matando o músico de 46 anos.

O fato deveria chocar por si só. Parte da sociedade, no entanto, prefere o silêncio —isso sem falar nos que optam, de forma absurda, pela negação. Sabem que é um risco que não correm, pois o músico era negro e não pertencia às classes sociais mais altas. 

Talvez o problema tenha mais chances de chamar a atenção se for deslocado do campo da sociologia —considerada pouco útil por alguns— para a área econômica. 

Dados mais recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que 64 mil pessoas foram mortas violentamente em 2017. Diariamente, um policial foi morto e outras 14 pessoas foram assassinadas em intervenções policiais.

Segundo especialistas, mortes prematuras em decorrência de homicídios reduzem o valor da produção e diminuem o consumo e a poupança, comprometendo o futuro do país.

Não há dados para 2017. Mas estudo de Daniel Cerqueira, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mostra que o custo da violência chegou a 6% do PIB (Produto Interno Bruto) apenas em 2016 ou o equivalente a R$ 372 bilhões —valores da época.

A perda econômica é expressiva. A proposta original da reforma da Previdência apresentada pelo governo, por exemplo, prevê uma economia total de R$ 1,1 trilhão. Em dez anos. 

Como o cenário de guerra não mudou desde 2016 e as expectativas de que a proposta seja aprovada integralmente se reduziram de forma dramática, é possível que a diferença entre gastos com violência e o montante a ser economizado anualmente com a reforma seja ainda maior. 

Assim, a crise fiscal pode ser um ótimo motivo para pensar em políticas qualificadas de segurança e em ações mais efetivas sobre o modo enviesado de atuar dos agentes do Estado.

É óbvio que assassinatos não devem ser avaliados sob perspectiva exclusivamente financeira. Aos que respondem melhor a esse aspecto, porém, vale defender a reforma da Previdência e o fim da letalidade policial com o mesmo ardor.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.