Deltan era amigo de Sergio, que era inimigo de Luiz Inácio, que era inimigo de Jair, que não amava ninguém (só a si mesmo e à própria família).
Luiz Inácio foi para Curitiba, Sergio, para Brasília. (Abraham foi para os Estados Unidos, com direito a jeitinho brasileiro, mas não podemos complicar —mais— a história).
A "nova política" morreu de desastre, a prisão em segunda instância ficou pra tia.
Sergio suicidou-se e Jair casou com A. Augusto Brandão de Aras, que não tinha entrado na história.
Na poesia do Brasil de hoje ainda faltaria uma segunda estrofe. Nela, Jair, Luiz Inácio, Augusto e o centrão, amedrontados com o fantasma de Sergio, parecem estar, momentaneamente, de mãos dadas. Há quem se diga de fato surpreso, outros insistem no "eu digo isso há muito tempo". Um deles parece cumprir o combinado. Os últimos podem estar cumprindo a promessa: estancar a sangria.
E há quem ainda duvide de que o Brasil consiga encontrar consensos.
Mas atenção! A lógica binária que sustentou a operação Lava Jato ainda rende bons frutos. Como muito bem apontou Conrado Hübner Mendes na sua coluna desta semana ("'Advocacia está em festa' com Aras, Bolsonaro também", 4/8), o aperto de mãos se escora num falso dilema: ou se é aliado da Lava Jato, ou se é aliado de Aras.
A promessa do procurador-geral da República, que anima os que há tempos bradam contra a operação e se sentiam menosprezados, esconde o risco da concentração de poder —ou alguém acredita que os neogarantistas defenderão com entusiasmo a anulação do que já foi feito, como a condenação do ex-presidente Lula, por exemplo?
Antes de fazer concessões, é preciso entender os versos dos corredores do Planalto, onde amor de verdade existe só por si mesmo.
Brasília, Brasília, vasta Brasília... A falta de métrica é tanta que nem o modernismo brasileiro poderia prever.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.