Há muito vemos aqui no Brasil não só lideranças políticas mas comunicadores apontando para a falta de estratégia da oposição.
Recentemente, Marcelo Freixo desistiu da candidatura criticando a falta de disposição para a construção de uma frente ampla de esquerda. Felipe Neto, em recente entrevista, criticou o excesso de vaidade. Nas palavras dele, "não há união, não há diálogo, há somente o interesse pelo protagonismo. O país vem em segundo lugar, em primeiro está sempre a vaidade". Aqui um parênteses: goste você ou não de Felipe Neto, ele acabou de ser eleito pela revista Time uma das cem pessoas mais influentes do mundo. Não adianta chiar. O mundo é como é.
Essa incapacidade ou falta deliberada de disposição para enfrentar a situação tal como ela se apresenta me faz menos otimista do que Jairo Nicolau, cientista político, que em entrevista sobre o seu recém-lançado livro, "O Brasil Dobrou à Direita", afirma que a vantagem de que Bolsonaro desfrutou por ter sido o primeiro a explorar as redes sociais tende a desaparecer, porque hoje o jogo já é conhecido. Será?
Se é conhecido, precisa ser explorado. Já sabemos que política não se faz mais só nos meios tradicionais, mas enquanto o bolsonarismo atua unido nas redes, a oposição se autodevora. A lógica antropofágica das redes é assimilar o poder pela disputa de território virtual. Eu te ataco e, entre os seus, encontro os que poderiam ser meus. Cresço em visibilidade. E daí que a "frente ampla" perde em força? Ganho eu. E, assim, vence a vaidade.
Jairo nos alerta para a necessidade de reconhecer que Bolsonaro se comunica com um Brasil que tem admiração por ele justamente por ele ser como é. Quem joga todo mundo na cesta do fascismo foge do desafio de entender o Brasil. De novo, a vaidade como protagonista.
Narciso acha feio o que não é espelho. É difícil olhar para o outro com olhos de ver, mas é nessa disposição que está a força e a essência da democracia.
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