A palavra é acomodação.
O centrão começou a semana querendo a cabeça de Ernesto Araújo e, para manter o hábito, mais espaço nos Ministérios. Derrubou Araújo e pôs uma cadeira dentro do Palácio.
Do outro lado, tínhamos um Bolsonaro enfraquecido, menosprezado, precisando reavivar a sua falsa imagem de líder forte.
O que ele fez, em troca de dar mais poder ao centrão, foi pedir mais espaço para construir sua narrativa. Começou o dia fraco, terminou fortalecido pelo medo que pairou nas redes. O Twitter devolveu a Bolsonaro a força que ele não tem.
Uns mais preocupados com o poder de fato, outros, com parecer fortes. Não me parece uma escolha difícil para Valdemar Costa Neto, o líder do partido que agora senta na Secretaria de Governo, que tem 265 seguidores no Twitter. Em troca da cadeira, o centrão concedeu a Bolsonaro o direito ao show para as redes. Lira, que recentemente fez um discurso duro sobre remédios amargos, estava mais tranquilo, ao menos publicamente, nessa segunda.
O palhaço levanta o picadeiro, mas quem manda no circo é o dono, por trás das cortinas.
Sobram as Forças Armadas. Pensemos sobre isso. A insatisfação com a tentativa de instrumentalização pelo "mau militar" não começou na segunda. As divisões internas, obviamente, antecederam a crise.
O movimento da segunda transformou o que era "racha mais crise na imagem" por "racha mais um editorial elogioso desta Folha". Uma instituição que teve a imagem amarrada à catástrofe da péssima gestão da pandemia, agora se apresenta, ao menos em parte, como defensora da democracia. Sinto que tenha demorado tanto. Não é de hoje que Bolsonaro acena para a instrumentalização de setores insubordinados do Exército e da polícia. Pode até parecer que a convicção democrática se fortaleceu diante da queda de popularidade do governo.
Nessa equação complexa, um ator sempre perde: o povo. Devemos permanecer atentos e tentar pensar como pensa o poder.
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