Giuliana Vallone

É jornalista. Foi secretária-assistente de Redação da Folha e correspondente em Nova York

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Giuliana Vallone
Descrição de chapéu Copa do Mundo

O vinho derramado e o VAR

Só incluíram mais uma etapa na insatisfação, que é eterna

São Paulo

Um casal discute sobre um tema qualquer. Discordam veementemente sobre o que quer que seja (o choro do Neymar, talvez?). Em dado momento, no auge do debate, uma taça de vinho vai ao chão após toque dele.

Para ela, é falta grave. Ele se descontrolou e perdeu o rebolado. Na versão dele, foi um esbarrão acidental, jogo de corpo entre a mão e a taça. Ela discorda e logo sinaliza o quadrado com as mãos: quer o VAR, o árbitro de vídeo.

A cena é repetida para que ambos assistam. O toque na taça é claro, mas com que força? E qual a intenção?

Depois do replay, nada muda. Ela diz que é falta, ele diz que é do jogo. Voltam para casa juntos, calados e insatisfeitos com o resultado.

Antes que o leitor pense que enlouqueci, explico meu ponto. Uma jogada pode ser repetida infinitas vezes e será, igualmente, interpretada de infinitas maneiras. O novo assistente, sensação da Copa do Mundo de 2018, não muda esse fato, que é o principal.

Apitar uma partida é um ato subjetivo. As regras podem até ser claras, mas interpretá-las continua dependendo de um sujeito (ou vários, enfurnados em uma salinha que me parece bastante desconfortável).

E, se no relacionamento não há soberano (embora, na minha opinião, seja ela), em campo, há. Prevalece a decisão do árbitro principal da partida sobre todas as outras visões.

O juiz pode mudar de ideia, como o holandês Björn Kuipers fez no (não) pênalti de Neymar, mas, se ele decidiu que houve/não houve penalidade máxima, falta, impedimento, basta.

O que muda, então, com o VAR? Nada. Só incluíram mais uma etapa na insatisfação, que é eterna. Num futebol que já é mais chato por causa do jogo retranqueiro, do despreparo emocional dos atletas e do cai-cai do Neymar, adicione à lista agora o sinal do quadradinho a cada lance polêmico.

Sim, haverá quem diga que a videoarbitragem torna o esporte mais justo, a exemplo do tênis ou do futebol americano. Mas, veja bem, no futebol a justiça nunca será feita.

Num jogo em que o melhor nem sempre ganha, não há sentido em, de repente, querer se impor justiça. Suárez evitou o gol com a mão, Maradona usou a mão para marcar, Rivaldo fingiu ter tomado aquela bolada na cara.

O futebol é, hoje e sempre, o maior esporte que existe. E, assim como a vida, é bom, mas não é justo. Quem discorda pode fazer o quadradinho e pedir o VAR (e vai, Brasil!).

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