Giuliana Vallone

É jornalista. Foi secretária-assistente de Redação da Folha e correspondente em Nova York

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Giuliana Vallone
Descrição de chapéu Copa do Mundo

Resistir à Copa do Mundo (e falhar)

Há muitos motivos para não comemorar a chegada da Copa, até começar o bolão

Há muitos motivos para não comemorar a chegada da Copa do Mundo de 2018. A começar pela anfitriã do Mundial, a Rússia do autoritário Vladimir Putin, principal beneficiário político de um evento bem-sucedido, dentro e fora de seu país.

A Rússia homofóbica de Ramzan Kadirov, presidente da Tchetchênia, república que integra a Federação Russa e palco de diversos ataques contra a população LGBT.

Ativistas de direitos LGBT protestam em São Petersburgo em 2013
Ativistas de direitos LGBT protestam em São Petersburgo em 2013 - Olga Mattseva - 1.mai.2013/AFP

Suas leis retrógradas proíbem manifestações públicas de afeto ou em apoio à comunidade LGBT em locais em que possa haver crianças. Em razão disso, o Itamaraty incluiu no Guia do Torcedor Brasileiro a recomendação de que casais do mesmo sexo não se beijem ou andem de mãos dadas nas ruas --sob pena de serem deportados.

Sob Putin, a Copa terá outra cara: seu governo proibiu também aglomerações espontâneas de torcedores durante o maior evento esportivo do planeta. Quer comemorar a vitória do seu time? Queira, por favor, dirigir-se à fan fest mais próxima. Futebol não é baderna, afinal (risos).

A escolha do país como sede, aliás, foi cercada de boas intenções. Dos 24 integrantes do conselho executivo da Fifa em 2010, responsável pela eleição da Rússia-2018 e do Qatar-2022, mais de metade se viu implicada em investigações posteriores de corrupção.

Os processos, de responsabilidade do Departamento de Justiça americano e que tiveram início em 2015, chegaram à CBF (Confederação Brasileira de Futebol). José Maria Marin está preso. Seu sucessor, Marco Polo Del Nero, foi banido do futebol --mas não sem antes ajudar a eleger um aliado, Rogério Caboclo. 

Nem a música oficial da Copa-18 é boa. "Live it Up", de Nicky Jam, Will Smith (?) e Era Istrefi só me faz pensar nas saudades que sinto da Shakira e, sim, do Pitbull (e até da Claudia Leitte). Não teremos Itália, Holanda, Chile. Nem "OOO-EEE-AAA".

Mas eis que chega o primeiro email sobre o bolão da Copa. Os amigos começam a inventar compromissos para assistir aos jogos. Alguém pintou a calçada da rua de verde e amarelo. O Brasil ganhou de 3 a 0 num amistoso contra a Áustria no domingo. Salah se recuperou e vai jogar pelo Egito --e derrotar a Rússia, sua adversária na primeira fase, para nossa alegria, espero. 

De modo que só me resta deixar registradas aqui, de antemão e publicamente, minhas sinceras desculpas pelo meu comportamento até 15 de julho. Vai, Brasil!

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