Giuliana Vallone

É jornalista. Foi secretária-assistente de Redação da Folha e correspondente em Nova York

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Amanhecer pós-pandemia exige nova maneira de pensar

Em livro de 2020, escritora ressalta a distinção entre os poderosos e os sem-valor

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Da leva de ótimos livros da pandemia, “Intimations”, da britânica Zadie Smith, publicado em 2020, é citado recorrentemente por referir-se à crise como “the global humbling” —uma lição de humildade mundial.
Mas, ao longo dos ensaios, parece abandonar a própria crença. “Perversamente, a suposta natureza democrática da peste se mostra sobrevalorizada”, escreve ao tratar da desigualdade na mortalidade nos EUA.

Noutro, “Contempt as a Virus” (o vírus do desprezo), ela ressalta a distinção entre os poderosos e os sem-valor. “Diante do desprezo, você é algo menor que uma pessoa inteira, não exatamente um cidadão. Digamos três quintos disso. Você é estatística. Uma perda calculada.”

A escritora Zadie Smith em Nova York, em 2016 - Gabriela Herman/The New York Times

Em outubro de 2021, é impossível reler “Intimations” sem olhar para o Brasil, num momento em que surgem sinais de retorno a alguma normalidade. A começar pela ausência de humildade do presidente, que chamou de “gripezinha” a Covid-19 e não se vacinou, pois sua “taxa de anticorpos está lá em cima”.

Temos quase 600 mil mortos e comprovamos repetidas vezes que não há quase nada de democrático na crise brasileira. Em território nacional, a letalidade foi maior entre os não brancos e os menos escolarizados, muitos não puderam praticar o distanciamento social e a fome disparou. Agora, a projeção é que as consequências econômicas e sociais serão duradouras —o desemprego, por exemplo, só deve voltar aos níveis pré-crise em 2023.

E reportagem desta Folha lembra que o cenário anterior já não era algo a ser celebrado: a taxa de miseráveis sobe desde 2015 —27,4 milhões vivem hoje com menos de R$ 261 ao mês.
Smith relata que, em 1945, ao final da Segunda Guerra, ninguém desejava voltar à vida antiga, exceto para ressuscitar os mortos: “O desastre demandava um novo amanhecer. E só uma nova maneira de pensar pode levar a isso”.

Em 2021, uma melhoria real pós-pandemia também exigirá uma postura radicalmente distinta do que se tem visto em Brasília até aqui.

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