A conversa começa bem. Bolsonaro ouve de um apoiador que o Ministério da Educação deveria tomar o exemplo de Hitler na educação infantil. A resposta é um resumo de sua estratégia de comunicação: culpa a burocracia por não fazer o que deseja e ofende opositores (neste caso, Anitta, que "não sabe nada" de política —o que, diz, é comum no país). Por fim, dá sua solução à la Bolsonaro para a questão: retomar a educação moral e cívica nas escolas.
Foquemos, contudo, o (correto) diagnóstico. Sim, presidente, a falta de conhecimento político no Brasil é comum. E, aliás, não se resume ao nosso país nem aos nossos tempos.
Em 1964, Philip Converse concluiu que a grande maioria dos americanos não tinha um sistema de crenças políticas bem desenvolvido. O cenário não mudou muito de lá para cá. Em 2017, só 26% deles eram capazes de nomear os três Poderes.
No Brasil de hoje, o Índice de Democracia Local (2019) mostra que 60% dos paulistanos não conhecem nenhuma instituição política. O que fazer então? Retomar a disciplina cujo auge ocorreu na ditadura não é a resposta.
Assim, busca-se inspiração em outras fontes. Uma delas é o livro "Uninformed" (2016), de Arthur Lupia. O cientista político debate por que sabemos tão pouco e o que se pode fazer sobre isso. De saída, afirma: "Quando se trata de informação política, há dois grupos. Um entende que é quase completamente ignorante sobre detalhes de leis e políticas públicas. O outro é delirante sobre o quanto de fato sabe". A partir daí, sugere ações para ganhar o interesse do público e ensina educadores (cientistas, jornalistas, políticos, ativistas) a medir o conhecimento e a evolução de seus interlocutores.
Spoiler: não há solução fácil, nem lista pronta daquilo que é preciso ensinar. Para Lupia, educar politicamente a população requer método, personalização e ajuste constante de rotas. É um caminho longo, mas essencial. Para aqueles que têm interesse nele, "Uninformed" serve como excelente ponto de partida.
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