Gregorio Duvivier

É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

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Gregorio Duvivier

Começou com uma verruguinha

O bicho cresceu tanto que hoje Moro vive pra alimentá-lo

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Ninguém mais conta anedota hoje em dia. Tenho pena. Existe um forte sentimento piadofóbico na minha geração, de modo que ninguém mais se arrisca a lançar no meio da conversa um: “Conhece aquela do papagaio?”. Acho uma pena porque havia muita sabedoria escondida nas anedotas. Ajudava a explicar muita coisa.

Não consigo olhar pra cara do Moro sem lembrar do homem com o sapo na cabeça. Um sujeito está bebendo num bar quando entra um careca com um enorme sapo saindo do cocuruto. O primeiro não consegue parar de olhar pro batráquio saindo do couro cabeludo do colega. Não aguenta e pergunta:: Desculpa, amigo, mas como foi que isso aconteceu?”. Ao que o sapo respira fundo e responde: “Começou com uma verruguinha...”.

Colagem na qual Jair Bolsonaro está vestindo um chapéu adornado com flores, peças verdes e amarelas e uma foto de Sergio Moro na coroa. No topo do acessório, há um sapo com manchas verdes e o rosto de Jair Bolsonaro
Catarina Bessell/Folhapress

Quem vê Bolsonaro entrando num bar portando um juiz ornamental na cabeça talvez pergunte ao presidente: Como foi que isso aconteceu? Quando, na verdade, a pergunta deveria ser dirigida ao sapo na sua cabeça: Como foi que o senhor desenvolveu essa hérnia de cem quilos? Quando foi que começou a crescer esse pústula de um metro e oitenta? Quando foi que a tênia começou a falar?

A Lava Jato desenvolveu um tumor autoritário que ganhou eleições. O bicho cresceu tanto que hoje Moro vive pra alimentá-lo. O Batman brasileiro, quem diria, trabalha como guarda-costas de miliciano.

O que fazer quando a verruga é maior do que o dono? Impossível cortá-la sem arrancar de Moro os órgãos vitais. Há quem diga, sobre a Lava Jato, que não se deve jogar fora o bebê junto da água da bacia. Na metáfora, o bebê seria a prisão de corruptos, enquanto a água da bacia seriam os grampos não autorizados, o vazamento de delações, a blindagem de FHC, as palestras, os laranjas, o Beach Park e, claro, a adesão a um dos candidatos, que mais tarde viria a empregá-lo. A metáfora do bebê não se presta, a não ser que você dê banho no seu filho dentro de uma vala de esgoto.

A Lava Jato se parece mais com uma latrina —e a imprensa hesita em dar a descarga, como se houvesse um bebê ali dentro. Não tem. O filhote tem outro nome. 

O encarceramento de corruptos, seletivo e ideológico, não se difere dos outros dejetos ali dentro. Antes que seja tarde, é preciso jogar fora o cocô junto com a água da bacia.

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