Querido leitor confinado, que situação insólita a nossa. Caso você esteja surtando, tudo está dentro da normalidade. Caso esteja normal, sinto avisar que deve estar surtando. Os sinais estão trocados: antes, ficar trancado em casa denotava sociopatia. Hoje, sair de casa virou sinal de demência. Não é preciso fazer exame psicotécnico. O sujeito que está frequentando churrascos com seu jet ski tem algum tipo de transtorno mental.
“Ah, mas isso é um preconceito.” Permita-me a “jetskifobia”, mas acredito que o sujeito que tem esse hobby já tem uma chance imensa de ser um imbecil. No meio de uma pandemia, essa probabilidade chega muito mais perto de 100%. Existem exceções, é claro. O segurança que passou seu domingo na garupa de Bolsonaro está constrangido, não tem culpa do chefe se comportar como um adolescente rico e sem amigos.
O último presidente que andava de jet ski foi Collor —e em sua defesa o mundo não estava no meio de uma pandemia. Supostamente patriota, autodeclarado caçador de marajás e alegando perseguição dos três Poderes (inclusive do próprio), Bolsonaro tem se revelado um Collor com dicção piorada —e menos respeito pela Constituição. Trocou o supositório de cocaína por um de cloroquina.
Bolsonaro está em algum lugar entre Collor e Joe Exotic, protagonista da série “A Máfia dos Tigres”. Peço desculpas pra quem não viu, mas tem muito a ver com nosso presidente. Ambos são youtubers armamentistas com mania de perseguição que odeiam fiscais do meio ambiente e sonham com a Presidência da República.
Supondo que a Record comprasse os direitos pra refilmar no Brasil, Jeff Lowe seria Moro, o sócio que fecha uma delação com a Polícia Federal e joga o parceiro na fogueira pra se limpar enquanto há tempo. Carole Baskin, é claro, é o PT: apesar de ter abraçado uma causa justa, será para sempre atormentada por suspeitas de um crime do passado. João Doria interpretaria Doc Antle, o Joe Exotic tucanado.
Apesar da evidente psicopatia, ou por causa dela, tanto Bolsonaro quanto Joe Exotic conseguem reunir um séquito de rejeitados com uma narrativa delirante e narcísica de perseguição.
Só consegui me identificar com os tigres. Assim como os felinos, estamos sedados, melancólicos e nas mãos de um demente. Pior do que estar confinado é perceber que as chaves da jaula estão nas mãos de um oligofrênico piromaníaco que não hesita em atear fogo às provas, mesmo que queime todo o mundo junto.
A morte anda a cavalo, dizia o faroeste. No Brasil, anda de jet ski —e dá cavalo de pau.
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