Gregorio Duvivier

É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

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Gregorio Duvivier

Não à toa, a pessoa mais querida do BBB foi a que não topou jogar o jogo

Não dá pra dizer, pelo Big Brother, que a humanidade está doente; dá pra dizer que o Boninho talvez esteja

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Tenho um defeito seriíssimo: detesto não saber do que estão falando. Nas ruas, chego a dar meia volta pra pescar o resto de uma conversa que ouvi pela metade. Sofro de uma curiosidade insaciável pela vida alheia, que é uma maneira rebuscada de dizer que adoro fofoca.

Eis que as ruas estão vazias de conversa pra ouvir, e passo muito mais tempo do que deveria no Twitter —onde fico perplexo com a quantidade de gente que sofre do mesmo mal que eu. Por isso fui atrás do Big Brother. Só porque não tenho personalidade e queria me enturmar? Exatamente. Chutaria que quase toda
a audiência do Big Brother é composta de gente que tá vendo o Big Brother porque todo o mundo tá vendo Big Brother.

Três televisões antigas mostram a frase 'Big Perda de Tempo'
Catarina Bessell/Folhapress

Se quiserem meu conselho: não vale a pena. Sobretudo pra quem gosta de fofoca. Se algo pode ser classificado como fofoca é porque alguém não quer que aquilo seja dito, e só isso já torna a informação interessante e reveladora.

Big Brother não tem nem uma fofoca sequer. É tudo performance (o contrário da fofoca).

Dizem que o Big Brother revela muito sobre o ser humano, como se não existissem filtros, e os humanoides ali presentes tivessem caído ali à sua revelia, e aleatoriamente. Pra começar, não é todo mundo que topa participar de um reality.

A maioria das pessoas têm uma vida aqui fora, e preferem cuidar dela, ou não podem deixar de cuidar dela. Essa parcela da população —a de que não quer ou não pode entrar num reality— é a única que me interessaria ver num reality.

É um paradoxo groucho-marxista: não me interessa assistir a nenhum reality com pessoas que aceitaram
participar de um reality.

Entre aqueles que se dispõem a ser filmados 24 horas por dia, a emissora impõe um segundo filtro, escolhendo as 20 pessoas que vão render mais confusão, logo audiência, logo dinheiro. Ou seja: o programa não diz muito sobre o ser humano, diz muito sobre o que o Boninho pensa que o ser humano gostaria de ver num ser humano.

Ou melhor: não dá pra dizer, pelo Big Brother, que a humanidade está doente. Dá pra dizer que o Boninho talvez esteja.

Não à toa, a pessoa mais querida do público foi a que não topou jogar o jogo. Essa pessoa, sim, merecia um prêmio: “Parabéns, Lucas, toma R$ 1,5 milhão. Você foi o primeiro a perceber que a humanidade é melhor do que isso aqui”.

A coisa mais bonita que já aconteceu nesse jogo foi a recusa em jogá-lo. O gesto podia servir de recado pra gente. A humanidade é melhor que aquilo lá.

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