Gregorio Duvivier

É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

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Gregorio Duvivier
Descrição de chapéu

Bolsonaro não tem inteligência necessária para cometer genocídio

A corrupção, quando praticada no interior do esquema de corrupção, acaba por tornar menos lucrativa a corrupção

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Deixa eu ver se eu entendi. Bolsonaro contratou a cunhada e o cunhado com verba de gabinete, cometendo aquilo que antigamente se chamava de nepotismo, e o pessoal da nova política chama de “family hiring”.

Tudo bem: às vezes os profissionais mais capazes calham de ser, ambos, seus cunhados. Não contratá-los pode configurar cunhadofobia. Andrea, por exemplo, é fisiculturista, pode ter sido útil na segurança pessoal. O cunhado André, produtor cultural, pode estar por trás dos shows de acordeom do presidente da Embratur.

Só que nem a cunhada nem o cunhado trabalhavam pra ele em Brasília —apesar de receberem como funcionários públicos. O que talvez, pensando bem, inocente Bolsonaro. Fica a pergunta: será que também caracteriza nepotismo se os funcionários forem fantasmas?

A cunhada morava no Rio, onde malhava três vezes por dia, além de fazer faxina (depois dizem que o carioca é preguiçoso).

Segundo a cunhada, tanto ela quanto o cunhado “devolviam” parte do salário pro Jair. Devolver está entre aspas porque o dinheiro não pertencia ao Jair antes de ser depositado pra cunhada, não sendo possível devolvê-lo —mas é o termo que ela usa. E tem algo de errado em transferir parte do seu salário pra um político? Por acaso o político que te indicou pro cargo? Por acaso um cargo que você nem sequer exerce? Alguns chamariam de gratidão.

O problema é que o cunhado não devolvia tudo o que tinha que devolver, levando Bolsonaro a demiti-lo do emprego que nunca teve. Palmas pro parente, praticante desse clássico brasileiro que é o desvio do desvio, o roubo de quem rouba. A corrupção, quando praticada no interior do esquema de corrupção, acaba por tornar menos lucrativa a corrupção.

Já que era o cunhado quem estava ganhando pra não trabalhar, não seria justo dividir com outrem o suor do seu ócio. Se a classe ociosa nada produz, a ela tudo pertence.

Bolsonaro falando com um dinheiro em seus olhos
Publicada em 6 de julho de 2021 - Catarina Bessell

Gostaria de pedir desculpas aqui por superestimar o presidente. Por meses pedimos pro Tribunal de Haia julgar Bolsonaro por genocídio, crime de ódio, crime contra a humanidade. Isso equivale a pedir pra Fifa apitar uma pelada no aterro. O presidente, homem comum, gosta mesmo é de crime comum —e merece uma cela comum.

Devíamos ter suspeitado. Bolsonaro não tem inteligência pra cometer um crime contra a humanidade. Pra se fazer um genocídio é preciso de dolo. E o negócio dele é dólar. A humanidade não tem nada a ver com isso. Bolso roubou foi do seu bolso mesmo.

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