Nesta semana o Datafolha mostrou que o país tá dividido ao meio. Mais da metade considera esse governo ruim ou péssimo. A outra metade, um pouco menor, pouca gente lembra, está dividida em duas metades. Tem a metade da metade, cada vez menor, que considera esse governo bom ou ótimo. Conheço alguns: aquele primo que toma cloroquina, aquele tio que acredita que a terra é plana, aquele sobrinho que faz coreografia na avenida Paulista contra a "vachina" do Doria.
Mas tem a segunda metade da metade: a que considera esse governo regular. Tão numerosos quanto os apoiadores, ocupando um quarto da população, estão aqueles que olham pra esse governo desregulado e dizem: "Hmmm. Regular. Nota cinco".
O leitor talvez pensará que são pessoas que não sabem do que se trata, ou preferem não responder ao Datafolha. Mas os que não sabem, ou não respondem, estão lá na pesquisa, e são só 1% —embora toda gente conheça alguém que não sabe nada, ou não responde a coisa alguma.
O regular, ao contrário dos que se abstêm, é alguém que se deu ao trabalho de responder à pesquisa. E respondeu que... "Taí. Podia ser melhor. Ou pior."
Depois de 500 mil mortes, roubo na vacina, rachadinha familiar e ameaça de golpe, o regular diz: "Olha, vou ser sincero com você. Esse governo, pra mim não fede nem cheira. Quer dizer, fede. Mas fede a peixe morto, podia feder a cocô. Não que seja bom. Mas tampouco é ruim. Nem oito nem 80, nem tanto ao mar nem tanto à terra".
Talvez o regular seja só educado demais pra falar que tá uma merda. "Não vou dizer que tá horrível. Não que não esteja. Tá horrível. Mas o presidente tá claramente deprimido. Não quero matar ele de desgosto, ou soluço."
Talvez, hipótese mais provável, o regular tenha apenas um problema de autoestima. "O presidente não é genial. Mas eu também não sou. Então não posso me queixar. Estamos quites. Ele não fez nada até agora? Eu também me matriculei na academia e não fui até hoje."
Precisamos acolhê-lo. Regular: você merece mais. Não trate como regular quem trata você como lixo. O presidente não é regular. Ele não regula, é diferente. E mesmo que regulasse: isso é muito pouco pra você. Você merece um bom, você merece um ótimo. Outro dia mesmo, esse país tinha um presidente com 87% de bom e ótimo. Isso não faz nem 12 anos. A gente consegue chegar lá.
Regulares do Brasil, uni-vos. A gente merece um presidente que regule.
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