Gregorio Duvivier

É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

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Gregorio Duvivier
Descrição de chapéu

Entendo quem não coma bicho esperto, mas tenho apego a bicho burro

Quando for a um restaurante, vou perguntar: qual desses animais é o mais cretino?

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Conheço muita gente (eu) que quer parar de comer carne mas encontra um obstáculo gigante (a carne). Parece ridículo, mas a carne tem ótimos argumentos pra ser comida, como gosto, cheiro e onipresença —tente encontrar uma barraquinha de tofu às três da manhã!

No entanto um mundo onde pessoas comem animais em todas as refeições não é viável nem pras pessoas, nem pros animais, e muito menos pro mundo. Por isso tem se multiplicado essa figura que é às-vezes-tariano. Enquanto os vegetarianos são vegetarianos todos do mesmo jeito, os semivegetarianos são semivegetarianos cada um à sua maneira.

Ilustração de Catarina Bessel, em 22/12/2021, mostra um fundo verde escuro, com foto de Gregório Duvivier em preto e branco com textura granulada, da altura do peito para cima. Em cima da foto, a camisa está colorida de vermelho, ele tem um gorro de Papai Noel na cabeça, uma barba branca e óculos redondos na cor amarela
Ilustração para coluna de Gregório Duvivier de 22 de dezembro de 2021 - Catarina Bessel

Conheço alguns burrotarianos —carnívoros que se recusam a comer bicho inteligente. Um porco está fora de cogitação. "O leitão sabe fazer contas de adição e subtração", dirá o burrotariano. "Se bobear sabe mexer no Excel." Um peru, no entanto, poderá ser comido sem culpa, porque é um animal que nunca se destacou pela perspicácia. Um peru, se fosse celebridade, seria o Sergio Mallandro —sempre andando sem rumo, fazendo barulhos indistintos. "Gluglu! Iéié!"

Antes de pedir um prato, o burrotariano pergunta qual o QI do animal. "Entre a tilápia e o robalo, qual o senhor acha que teria a pior colocação no Enem?" É difícil comer um animal que julgaria você com os olhos, como o porco. O burrotariano prefere um animal que não faz ideia do que está acontecendo, como a galinha. O galináceo, todos sabem, se fosse uma pessoa votaria no Amoedo. "Ele é o novo", diria a galinha. "Nem Lula nem Bolsonaro, quero uma terceira via." Moluscos nem se fala. Os frutos do mar, em geral, são
todos olavistas. Olhe pra cara de um camarão e me diga se ele não acredita que tem um chip na vacina chinesa.

Entendo essa gente que não come bicho sagaz, mas tenho especial apego a bicho burro.

Quando pequeno, tive um cachorro chamado Ninja —talvez o quadrúpede mais burro e adorável que já pisou nessa terra. Conheci tanta gente burra e boa e tanta gente esperta e má. Se fosse adotar um critério pra comê-los, escolheria só comer bicho escroto. O filme "Professor Polvo" fez com que parasse de comer polvo, não porque seja inteligente, mas porque faz carinho. Difícil comer um bicho desses. A gente não devia comer vaca, esse bicho tão fofo — e livrar a cara de tanto bicho sacana.

Da próxima vez que for a um restaurante, vou perguntar: "Qual desses animais o senhor acha que é o mais cretino?

Vamos supor que está trânsito: qual desses animais aqui trafegaria pelo acostamento?".

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