Gregorio Duvivier

É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

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Gregorio Duvivier
Descrição de chapéu

Bolsonaro leva menos gente pra rua do que o teatro contemporâneo

Imagina o escândalo se um artista gastasse R$ 1 milhão numa performance tão flopada quanto a motociata do presidente

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Não dá pra dizer que o presidente não trabalha. Faz semanas que Bolsonaro preparava uma motociata, esse tipo especial de micareta sem beijo na boca, mas com segurança agarradinho no cangote.

Bolsonaro passou um bom tempo divulgando em todas as suas redes aquela que seria "a maior motociata de todos os tempos".

Tudo o que conseguiu foi levar 3.000 motinhos pra rua. Mais precisamente 3.703 motos. Dá pra saber o número certo por causa do pedágio. Quer dizer, dá pra saber que não passou disso —mas pode ser menos que isso, já que pode ter passado algum motoqueiro desavisado ali no meio, coitado. Pobre do motoqueiro que só queria chegar em casa e acabou sendo contabilizado como um apoiador de rachadinha e gasolina a R$ 8.

Ilustração que representa o vulto do presidente Bolsonaro em foto desbotada em tons de azul, sendo desenhados "Xs" vermelhos no lugar dos olhos e da boca
Ilustração publicada em 19 de abril - Catarina Bessell

O leitor atento dirá que algum manifestante poderá ter ido na garupa. Não encontrei, nas fotos, ninguém na garupa de outra pessoa que não o presidente. O número, pra ser justo, pode chegar a 3.704 manifestantes.

Numa rápida pesquisa, descubro que os jogos do XV de Jaú têm mais público que o desfile do presidente. Não é exagero. O Quinze, atenção! Não o de Piracicaba, mas o de Jaú, levava em média 4.023 pessoas ao estádio, isso quando ainda jogava na quarta divisão do campeonato paulista. Futuramente, o presidente deveria promover eventos no Estádio Zezinho de Magalhães, também conhecido como Jauzão, pra aproveitar o público espontâneo do Galo da Comarca.

Segundo fontes oficiais, a motociata custou um milhão de reais, só de segurança. Ou seja: o ingresso de cada motoqueiro custou 300 pilas ao contribuinte. Se a motociata fosse um filme (e por esse valor dava pra filmar um longa), a produção estaria entre os maiores fracassos da história do nosso cinema. Já participei de alguns fiascos, mas todos eles passaram de 10 mil espectadores. Imagina que escândalo se algum artista tivesse gastado esse valor numa performance tão flopada.

Pra garantir a segurança, a manifestação mobilizou 1.900 policiais militares. Ou seja: tinha um PM pra cada dois manifestantes. Cada par de amigos tinha um personal militar pra chamar de seu. Se o Lollapalooza tivesse essa mesma proporção de militares, o festival precisaria ter convocado 150 mil PMs.

Por acaso, o Festival de Curitiba acaba de levar 150 mil pessoas ao teatro no Paraná. Ou 50 motociatas. Da próxima vez que quiser convocar pra uma motociata, sugiro que Bolsonaro divulgue como uma performance de teatro contemporâneo.

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