Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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Guilherme Boulos

A palavra é delas

Cedo hoje meu espaço para mulheres exporem seu ativismo

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Esta segunda (8) foi o Dia Internacional da Mulher. Convivendo há anos com as mulheres sem-teto, tive o privilégio de conhecer de perto suas histórias de vida e de luta. Agora, na pandemia, o drama se agravou.

Por isso, hoje o espaço desta coluna será ocupado por elas. Com a palavra, Jô Cavalcanti (vendedora ambulante, ativista da luta por moradia e codeputada em Pernambuco pelas Juntas) e Debora Pereira (cozinheira, moradora do Capão Redondo e ativista das Juntas - Mulheres Sem-Teto de São Paulo):

"Nós, mulheres negras, mães e moradoras da periferia, somos as mais afetadas pela crise sanitária, agravada com a política de Bolsonaro. A mortalidade de negras e negros pelo vírus no Brasil é 40% maior que a de brancos. Em São Paulo, a chance de morrer por Covid em Lajeado, no extremo leste, é quatro vezes maior do que nos Jardins. Os dados refletem uma desigualdade histórica.

Uma das principais recomendações para impedir o contágio é ficar em casa. A primeira questão que apareceu para nós, enquanto mulheres da luta pela moradia, foi: e as mulheres sem teto? A realidade de muitas famílias é a falta de um abrigo com condições básicas. Nada foi feito para protegê-las.

Além disso, para quem trabalha na informalidade, o isolamento social infelizmente nunca foi opção. A demora no pagamento do auxílio emergencial e a falta de suporte do governo fez com que muitas de nós não tivéssemos outra alternativa senão nos arriscar na rua para levar o pão para casa. Que isolamento é possível no transporte público lotado?

Enfrentamos esse cenário com a sobrecarga do trabalho doméstico e os cuidados com os filhos. Sem falar na explosão dos casos de violência doméstica, que afligem muitas de nós. E, mesmo sendo mulheres fortes, sofremos com a dor da perda de familiares e amigos.

Nossa resposta foi encontrada de forma coletiva, através das ações do movimento social, que fez o que o governo deveria ter feito. Participamos da campanha de solidariedade do MTST, entregando alimentos e materiais de higiene. Organizamos cooperativas de costureiras para produzir máscaras. Lutamos para nos manter vivas e também para manter viva a nossa dignidade.

Resistir é a história de nossas vidas. Enquanto mulheres negras, sempre tivemos que criar estratégias de sobrevivência. E, neste momento tão desafiador, no segundo 8 de março em meio a pandemia, fazemos um apelo. Precisamos urgentemente do auxílio emergencial, para poder ficar em casa e nos proteger do vírus. Precisamos de vacina. Precisamos de medidas de acolhimento para nossas irmãs que estão em situação de rua, sem nenhuma proteção. Nossas vidas não são descartáveis."

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