Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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Guilherme Boulos

Confissões de um genocida

Lista do governo é uma verdadeira confissão do genocídio

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Após quase 400 mil mortos, chegou o dia D e a hora H da instalação da CPI da pandemia. Pensei em elencar os crimes de Bolsonaro que justificam a existência da comissão, mas em rara demonstração de eficiência, a Casa Civil o fez —no lugar da oposição— e com precisão invejável. Sob o pretexto de levantar as acusações a serem respondidas, a lista do governo é uma verdadeira confissão do genocídio em 23 atos.

Por falta de espaço, não abordarei todos, mas seguem algumas das principais "acusações" da ficha corrida levantada pela Casa Civil, acrescentando a elas as confissões presidenciais.

Acusação: O Governo foi negligente com o processo de aquisição e desacreditou a eficácia da Coronavac. Confissão: "A vacina 'da China' nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente" (outubro de 2020).

Acusação: O Governo minimizou a gravidade da pandemia (negacionismo). Confissão: "É só uma gripezinha" ou "Muito do que tem ali é muito mais fantasia. A questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propaga" (março de 2020).

Acusação: O Governo promoveu tratamento precoce sem evidências científicas comprovadas. Confissão: "Cada vez mais o uso da cloroquina se apresenta como algo eficaz" (abril de 2020).

Acusação: O Governo retardou e negligenciou o enfrentamento à crise no Amazonas. Confissão: "Não é competência nossa e nem atribuição levar o oxigênio pro Amazonas" (janeiro de 2021).

Acusação: O Governo recusou 70 milhões de doses da vacina da Pfizer. Confissão: "Toda e qualquer vacina está descartada" (outubro de 2020).

O roteiro da CPI é de autoria do próprio Bolsonaro. A comprovação de cada um dos fatos está escancarada nos seus discursos e no noticiário do último ano. Na verdade, o que está em jogo na CPI não são dúvidas reais sobre o mérito —que é autoevidente—, mas a escolha política dos parlamentares.

Há aqueles que defenderão Bolsonaro até o limite do absurdo porque estão no governo. Há aqueles que usarão a CPI para negociar seu passe, barganhando emendas e cargos. E há aqueles que expressarão o clamor social pela interrupção dos crimes contra a vida dos brasileiros e por sua punição. São esses os lados da batalha.

A vitória desta última posição pode fazer da CPI a antessala para o impeachment de Bolsonaro e, passo seguinte, para sua responsabilização criminal. Não estamos diante de uma disputa política comezinha, mas da possibilidade de ainda salvar vidas, afinal os crimes e a pandemia seguem em curso. Se for ao banco dos réus, aqui ou em Haia, Bolsonaro ao menos tem uma vantagem: a confissão já está pronta.

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