Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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As ruas e a história

As manifestações colocam Bolsonaro na defensiva, têm o potencial de pautar o impeachment e representam barreira popular à sua estratégia autoritária

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As manifestações do último sábado consolidaram a retomada das ruas pela oposição. A suposição de que os atos de 29 de maio teriam sido episódicos, mais um desabafo do que o impulso para uma mobilização nacional, caiu por terra. Desta vez, ocorreram manifestações no dobro de cidades e com público ainda maior, justamente no dia em que o genocídio brasileiro atingiu a marca de 500 mil mortos.

O foco das ruas tem sido o impeachment de Bolsonaro, em contraponto à ideia de simplesmente aprofundar seu desgaste até as eleições de 2022. As perdas humanas e sociais que podemos ter até lá caso ele continue no comando são incalculáveis.

É verdade que o impeachment encontra um grande obstáculo na aliança do governo com o centrão, feita à base de distribuição de emendas e ministérios. No entanto a queda de popularidade de Bolsonaro —sobretudo no Nordeste, onde está a força eleitoral de muitos deputados do centrão— pode mudar o ambiente no parlamento. Se forem forçados a escolher entre o cálculo da própria reeleição e a fidelidade ao governo, não hesitarão. O grito das ruas pode ser o empurrão que faltava. Até quando Arthur Lira conseguirá fingir que não ouve?

Mas, para além da viabilidade do impeachment, as manifestações têm um sentido histórico fundamental. São uma demonstração de força contra a marcha autoritária de Bolsonaro, uma espécie de barreira popular a seu projeto golpista, que toma contornos cada vez mais claros. Ao mobilizar seus partidários em passeios de moto, levar Pazuello a quebrar a hierarquia militar e intensificar a narrativa do voto impresso, Bolsonaro vai preparando o clima de uma ruptura institucional.

Mobiliza sua tropa para agir, com armas se for preciso, caso o impeachment avance e, principalmente, antecipando uma derrota eleitoral. O que Trump tentou de improviso, no episódio do Capitólio, Bolsonaro prepara com um ano de antecedência. Desacreditar o sistema eleitoral é peça-chave desta estratégia. Aposta na velha máxima do cinismo: “cara, eu ganho; coroa, você perde”. Se vencer nas urnas, é porque prevaleceu a vontade popular, se perder, é porque houve fraude. Alguém consegue imaginar Bolsonaro passando a faixa para um sucessor?

O discurso do golpe está montado. A preparação consiste em manter sua base mobilizada e apelar para milicianos e setores das polícias militares e do Exército. Por isso, as manifestações de rua são tão importantes: colocam Bolsonaro na defensiva, têm o potencial de pautar o impeachment e representam uma barreira popular à sua estratégia autoritária. Por isso é fundamental seguir e fazê-las crescer ainda mais. Nas encruzilhadas da história, a omissão é sempre o pior caminho.

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