Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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Guilherme Boulos

Rouba e não faz

Faltava um caso de corrupção graúda? Agora tem. Faltava rua? Tem também. E agora, Lira?

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Paulo Maluf ficou marcado pelo famoso bordão “rouba, mas faz”. A cada acusação de corrupção, e não foram poucas em sua carreira, ele respondia com o repertório que todo paulista cansou de escutar: “fiz a Jacu Pêssego, o Minhocão, o Leve Leite”...

Jair Bolsonaro, que passou boa parte de sua vida pública no mesmo partido que Maluf, se elegeu presidente com a bandeira do combate à corrupção. O clima do país em 2018, no auge do lavajatismo, era de rechaço à política e aos políticos. Bolsonaro soube explorar isso com bravatas como “acabar com a mamata” e “mudar tudo o que está aí”. Filho bastardo da Lava Jato, apresentou-se, logo ele, como moralizador da nação.

Após as eleições, não tardaram em aparecer os escândalos que hoje todo o país conhece: o caso Queiroz e o cheque para a primeira-dama, a rachadinha de gabinete e os negócios escusos do filho Flavio com imóveis e loja de chocolate, o laranjal eleitoral do PSL na campanha que o elegeu, a ligação mais do que suspeita com milicianos do Rio de Janeiro, enfim, a coleção de esquemas que acumulou na vida pública e privada.

Mas, mesmo com o fio das negociatas levando a Bolsonaro, a maior parte da opinião pública atribuiu os fatos a desvios dos filhos ou de gente próxima ao presidente, sem envolvê-lo. Até aqui não havia um caso estridente de corrupção ligado a seu governo e com sua participação ou conivência, o que ainda permitia à base bolsonarista —mesmo com o desastre de 500 mil mortos e 15 milhões de desempregados— refugiar-se na narrativa do “pelo menos, acabou a corrupção”. Era uma variante do bordão malufista: não faz, mas não rouba.

Agora, com o escândalo da Covaxin, o bolsonarismo fica sem pai nem mãe. Perde o último discurso que ainda tinha. Além de ser o pior governo da história brasileira, responsável diretamente por um genocídio, rouba. E, pior, rouba num contrato de compra de vacinas. Pior ainda, a acusação —vinda não de comunistas, mas de um deputado que apoiava seu governo— é de que Bolsonaro sabia e não fez nada. No mínimo, prevaricou para não melindrar Ricardo Barros e o apoio do centrão.

Contrato com sinais de superfaturamento, assinado sem aprovação da vacina pela Anvisa, com forte pressão sobre servidores e contando com a empresa Precisa como mediadora, que tem como sócio o dono de outra empresa, a Global Saúde, envolvida em contrato fraudulento quando Barros era o ministro. Tem pé de porco, orelha de porco, focinho de porco...

500 mil mortos e ameaças constantes à democracia não foram suficientes para abrir o impeachment. Faltava um caso de corrupção graúda? Agora tem. Faltava rua? Tem também. E agora, Lira? Bolsonaro precisa responder por seus crimes política e judicialmente. O impeachment é o primeiro passo.

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