Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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Guilherme Boulos

A fraude do voto impresso

A sociedade precisa rechaçar o movimento golpista no nascedouro

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Noventa vezes. É o número de ocasiões em que Bolsonaro falou sobre fraude eleitoral desde maio, mais de uma por dia. A verborragia presidencial é mais do que um simples desvio de foco dos 550 mil mortos e de gente em filas para pegar osso. É parte decisiva de sua estratégia.

Precisamos limpar campo. A questão principal não é o mérito: é legítimo que se discuta o sistema de votação no Brasil, e o voto impresso é uma das alternativas, adotada em outros países. Particularmente, acredito que ela facilite fraudes, em vez de dificultá-las. Mais do que isso, facilita a fotografia do voto pelo próprio eleitor para comprovação que só interessa a quem promove voto de cabresto. Mas não é esse o debate. Ou alguém acha que Bolsonaro está de fato preocupado com a transparência da democracia brasileira?

charge Laerte publicada na Folha no dia 25 de maio de 2021. Leva o título voto impresso, nela um boi enfrente uma urna de votação, de dentro da urna sai uma mão mecânica que faz uma marca no boi.
Charge de Laerte publicada na Folha em 25.mai.2021 - Laerte/Folhapress

A narrativa bolsonarista visa deslegitimar o processo eleitoral. Não por acaso ele intensifica o discurso justamente no momento em que seu governo tem pior aprovação e todas as projeções apontam sua derrota em 2022. Na verdade, ele não quer voto impresso, quer um pretexto. Que poderia ser qualquer outro, tanto é que nos EUA —onde o sistema de votação é impresso— ele foi o primeiro a denunciar "fraude" contra seu amigo Donald Trump.

Bolsonaro segue os passos de Trump, com mais antecipação e maior risco. Denuncia a "fraude" com um ano e meio de antecedência e prepara seu próprio Capitólio. A narrativa arma seus apoiadores para manter vivo o bolsonarismo mesmo com derrota de Bolsonaro. É preciso reconhecer que ele foi capaz de organizar um movimento ideológico de extrema direita, com capilaridade social, que só tem paralelo na história brasileira com os integralistas de Plinio Salgado. É isso o que ele quer preservar.

Mas a aposta é mais alta. Se conseguir trazer para o jogo setores das Forças Armadas e das polícias militares —onde tem inegável influência—, pode provocar um cenário de caos, que colocará o Brasil no caminho do golpe. Suponhamos que Bolsonaro chegue até a eleição de 2022 e seja derrotado. E que altos oficiais do Exército e das polícias ponham em xeque o resultado. Como os quartéis reagirão?

Por isso a pressão do general Braga Netto sobre o Congresso e sua nota em defesa do voto impresso são tão graves. A sociedade precisa rechaçar o movimento golpista no nascedouro. As manifestações de rua cumprem importante papel de contraponto. O Parlamento tem que convocar o ministro da Defesa para esclarecimentos. Todas as instituições e forças democráticas têm o dever de se posicionarem, sob a pena de cair na vala da covardia histórica. Ou desmoralizamos o golpismo ou seremos devorados por ele.

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