Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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Ameaças de Bolsonaro para Sete de Setembro devem ser levadas a sério

Dom Pedro nunca imaginaria que a data serviria para conflagrações golpistas dois séculos depois

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Quando, em 7 de setembro de 1822, dom Pedro deu o grito da independência às margens plácidas do rio Ipiranga, mal poderia imaginar que a data seria utilizada para conflagrações golpistas dois séculos depois. Bolsonaro tenta provocar o caos no dia que marcou o fim do colonialismo português.

Sua estratégia é a da fuga para a frente. Diante da queda de apoio social e com as investigações chegando a seu círculo mais próximo, ele opera uma famosa formação reativa freudiana: converte medo em agressividade. Se tem medo de perder as eleições, ameaça cancelar o pleito. Se tem medo de ir para a cadeia, chama a polícia e o Exército para suas aventuras golpistas. O problema é que, ao sempre dobrar a aposta, Bolsonaro não tem mais ponto de recuo. Ou vai ou racha.

Ele mesmo se deu conta disso ao falar de suas três alternativas: prisão, morte ou vitória. Convenhamos, temos nesse dramalhão um avanço em relação a 2018, quando, na mesma avenida Paulista em que pretende discursar no dia 7, ele disse que a oposição teria três alternativas: "cadeia, exílio ou a ponta da praia". O vaticínio voltou-se contra si próprio. Sinal da tragédia que é seu governo.

Mas as ameaças bolsonaristas precisam ser levadas a sério. Há pouco tempo, quando falávamos de risco de golpe, a resposta era um sorrisinho de canto, como quem se deparasse com ingênuas teorias conspiratórias. Bolsonaro se encarregou de mostrar de que lado estava a ingenuidade. Seu discurso tem eco em setores das Forças Armadas e das polícias militares. Mas até aqui não há fratura exposta. A maior ameaça está naqueles que ele pode utilizar como milícias privadas, que são os bolsonaristas que frequentam clubes de tiro e que ele armou até os dentes com sucessivos decretos. Foi para eles a mensagem do "todo mundo tem que comprar fuzil, pô".


A questão é como reagimos a essa ofensiva desesperada. Há aqueles que, placidamente como as margens do Ipiranga, preferem apenas confiar na resiliência das instituições democráticas, como se elas fossem rochas impávidas, imunes à pressão social. Logo elas, as instituições brasileiras, que demonstraram tamanha disfunção nos últimos anos.

Quando os bolsonaristas estiveram sozinhos nas ruas, sem oposição, mostraram que a barbárie não tem limites. Chegaram à ousadia de agredir enfermeiras, na praça dos Três Poderes, em meio à pandemia. Espancaram jornalistas em manifestações. Definitivamente, as notas de repúdio e a omissão não são os meios mais eficazes para conter um golpe.

É preciso estar nas ruas, fazer valer a maioria social. Sem cair em provocações, sem estimular o conflito, que só a eles interessa, mas sem nos deixarmos intimidar pelas ameaças de violência.

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