Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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Analistas políticos subestimam o risco Bolsonaro

É equivocada a tática de apenas desgastá-lo para que chegue fraco às eleições

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É impressionante como analistas, tanto na esquerda quanto na direita liberal, subestimam o risco Bolsonaro. Tiram conclusões precipitadas da crise de seu governo e parecem ignorar que, na história, a fotografia de um momento é sempre parte de um enredo dinâmico.

Bolsonaro está em sua pior situação: popularidade baixa, desemprego alto, volta da fome e uma condução criminosa da pandemia, alvo da CPI. As mobilizações de rua voltaram e há mais de 120 pedidos de impeachment com o presidente da Câmara. Acuado, entregou os anéis ao centrão, com Ciro Nogueira na Casa Civil e um controle paroquial do Orçamento em proporções inéditas.

Mas, se essa operação for suficiente para neutralizar o impeachment e lhe dar governabilidade até 2022, Bolsonaro poderá ter força para conflagrar o país. Seu pior momento tende a passar, não por méritos do governo, mas apesar dele. Apesar do negacionismo bolsonarista, a enorme maioria da população brasileira deverá estar vacinada até o fim do ano. Isso tem consequências na retomada da atividade econômica. A maioria dos economistas aposta que o PIB deve crescer algo em torno de 5%, compensando a queda de 2020. Mesmo com esse crescimento focado no agronegócio exportador —sem forte incidência na geração de emprego— cria-se uma sensação de melhora na sociedade.

Isso implicará em algum ganho de popularidade para Bolsonaro, devolvendo-lhe força política. E é ilusão acreditar que o centrão, agora no núcleo duro de seu governo, irá "domá-lo". Vem dos mesmos que acreditaram que Sergio Moro, Paulo Guedes ou os militares o fariam. Bolsonaro já atravessou o Rubicão.

Na live da última quinta-feira, dobrou a aposta na narrativa golpista do voto impresso. Não tem mais volta.
Mesmo nesse cenário, Bolsonaro não é favorito para a vitória nas urnas contra Lula. A questão é que, com a institucionalidade democrática esgarçada, no Brasil de hoje o debate toma outros contornos. Se Bolsonaro for capaz de manter sua base coesa e tiver uma votação expressiva, isso basta para incendiar o país ao não aceitar a derrota. Ainda mais se contar com o apoio de setores das Forças Armadas, como sugere a movimentação do general Braga Netto e o papel do general Ramos na fatídica live do voto impresso.

Hoje, o golpismo de Bolsonaro é sinal de desespero. Se a conjuntura se alinhar a seu favor, no ano que vem pode nos atirar no abismo. Por isso é tão equivocada a tática de apenas desgastá-lo para que chegue fraco às eleições. Supõe a crença ingênua de que estamos numa situação de normalidade. A oposição precisa jogar todos os esforços para derrotá-lo ainda em 2021. Não é uma batalha fácil, mas pode ficar pior...

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