Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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Paulo Guedes, Pandora Papers e corrupção

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Guedes foi pego com a boca na botija pela revelação dos Pandora Papers. O ministro “técnico” da Economia mantém ativa uma offshore no paraíso fiscal das Ilhas Virgens britânicas, na qual pode ter mantido operações financeiras em flagrante conflito de interesses com as decisões que toma no governo.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também aparece nos papéis, mas declarou não ter feito nenhuma movimentação durante os 15 meses em que esteve dos dois lados do balcão. O escândalo também mostrou que 66 dos maiores devedores da União mantêm contas milionárias em paraísos fiscais e que o cavaleiro da luta anticorrupção Luciano Hang —que surpresa!—, o Veio da Havan, manteve contas não declaradas por 17 anos.

Desde Carlos Lacerda o debate sobre a corrupção no Brasil é feito de forma enviesada. Os holofotes voltam-se apenas para a corrupção política, muitas vezes como arma de disputa partidária. Os corruptos da política devem ser investigados e punidos. Mas a corrupção financeira também precisa ser chamada pelo nome e combatida sem reservas. A relativização desse fato ajuda a explicar a cobertura tímida, para dizer o mínimo, da mídia nacional sobre os Pandora Papers.

Uso de informação privilegiada para enriquecer é corrupção. Favorecer seus interesses privados quando se está na gestão pública é corrupção. Além de uma questão ética, há conflito de interesses evidente, com enriquecimento de agentes públicos. Vários países do mundo implementam medidas contra a chamada porta giratória: figuras do mercado que assumem funções públicas na mesma área em que têm atuação privada e que, frequentemente, retornam a ela após sua passagem pelo governo.

É preciso estabelecer limites claros nessa fronteira perigosa, como regras de quarentena e vigilância dos órgãos de controle. Um operador financeiro no comando da economia tende a defender os interesses do país ou do mercado? Um representante das operadoras de telefonia à frente da agência reguladora irá punir as empresas quando não cumprem contratos?

O caso de Paulo Guedes é mais gritante porque vai além da hipótese. Como presidente do Conselho Monetário Nacional, aprovou, na semana passada, medida que facilitou a operação de derivativos com offshores. Em sua gestão, o valor do dólar explodiu, o que pode ter gerado ganhos de R$14 milhões em sua offshore, segundo reportagem da Piauí. Em qualquer governo sério —evidentemente não é o caso—, Guedes seria demitido e investigado. Até aqui, nem deu explicações.

Até quando a tradição udenista seguirá tolerando a corrupção financeira e esquivando-se de a chamar pelo nome? Sim, meus caros, é corrupção. E das grandes.

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