Lembro-me ainda hoje de quando assisti pela primeira vez à fatídica entrevista do general Newton Cruz, em que ele mandou o jornalista Honório Dantas "calar a boca" e depois partiu para a agressão física, apertando o seu pescoço. Um ato público de covardia, que retratava a ditadura militar. Parecia documento de um passado que, felizmente, não voltaríamos a vivenciar.
Neste domingo (12), no sul da Bahia, a cena foi repetida quase 40 anos depois: a repórter Camila Marinho levou um mata-leão de um segurança presidencial ao tentar se aproximar de Bolsonaro para fazer uma pergunta. Não foi a única. Outros jornalistas foram agredidos pela equipe palaciana e, depois, por bolsonaristas presentes.
Bolsonaro, covarde como poucos, especializou-se em agredir jornalistas, sobretudo mulheres. Quem não se recorda de suas grotescas insinuações sexistas contra a brilhante Patrícia Campos Melo, que revelou o esquema dos disparos de WhatsApp? Ou quando mandou calar a boca —como Newton Cruz— a jornalista Laurene Santos em Guaratinguetá? Driele Veiga, Daniela Lima e tantas outras foram vítimas da misoginia presidencial.
O cercadinho do Palácio do Alvorada foi transformado desde 2019 em palco para escracho e humilhação de jornalistas diante de regozijo do séquito bolsonarista. Para além de seu problema patológico com mulheres, que a própria primeira-dama já sugeriu que se estende para o âmbito doméstico, sua atitude com a imprensa é expressão fiel da violência política que imprimiu ao país.
É famosa a frase que Pedro Aleixo, o vice-presidente civil de Costa e Silva, teria dito ao votar contra o AI-5 em 1968: "O problema é o guarda da esquina". O mais grave das agressões de Bolsonaro é a mensagem que passam. Estimulam seus seguidores a fazerem o mesmo e em dose redobrada. Não por acaso jornalistas foram agredidos em manifestações e vivem um clima de constante insegurança no exercício da profissão.
Aqui é importante separar o joio do trigo. A imprensa não está nem deve estar imune a críticas e contestações. Ainda mais num país com forte concentração empresarial dos grupos de mídia e em que muitos políticos de oligarquias locais têm concessão de rádios e TVs. Defender maior diversidade de vozes e posições políticas nos meios de comunicação é parte da democratização do país, atacar jornalistas é o oposto disso.
2022 será prova de fogo para a democracia brasileira. Bolsonaro tentará fazer das eleições uma guerra campal contra a esquerda, os movimentos sociais e a imprensa. Viveremos, sem dúvidas, cenas tristes de violência política em intensidade ainda maior. Newton Cruz parecerá um homem de bons modos. Definitivamente, amigos, não será uma escolha difícil.
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