Gustavo Alonso

Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.

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Roberto Carlos também foi ídolo da música sertaneja, que incorporou o rock

Influência do rei pôde ser vista no estilo rural com o programa 'Jovem Guarda' e o disco 'Quero que Vá Tudo pro Inferno'

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Como já comentei aqui na semana passada, neste mês de dezembro está sendo lançado o livro "Roberto Carlos: Outra Vez", de Paulo Cesar de Araújo. Trata-se do primeiro volume (o segundo será lançado em breve) de mais de 900 páginas sobre o rei da música brasileira.

Roberto Carlos teve influência decisiva na música sertaneja. Sem Roberto, essa música não seria a mesma, pois ele foi um dos vetores de modernização da música brasileira que tanto atraíram os sertanejos.

Ao trazer a guitarra, o baixo, a bateria do rock para a música feita no país, Roberto transformou para sempre a forma de fazer canção popular, trazendo temáticas do dia a dia, reformatando o canto intimista e informal e associando-o diretamente à música popular massiva e à juventude.

Foi em 1969, quatro anos após o estouro do primeiro grande sucesso nacional, "Quero que Vá Tudo pro Inferno", que a influência de Roberto Carlos se viu de forma mais clara na música rural. O sucesso dos discos, mais o programa "Jovem Guarda", capitaneado pelo rei na TV Record até o ano anterior, gerou uma geração sertaneja que se apaixonou pelo rei.

Aproveitando a seara aberta por Roberto, Leo Canhoto e Robertinho lançaram seu primeiro disco em 1969. De forma inédita, guitarras, baixo e bateria foram incorporados ao sertanejo. Inovadora no gênero, Leo Canhoto & Robertinho foi a primeira dupla a fundir, explícita e conscientemente, o rock da jovem guarda e a música sertaneja, cantando dramas da vida urbana e o amor fortuito.

José Simão Alves, o Robertinho, era natural de Água Limpa, em Goiás, e foi criado em Buriti, no mesmo estado. Conheceu Leo Canhoto em Goiânia e, influenciado por Roberto Carlos, adotou o nome artístico inspirado no rei. A dupla se mudou para São Paulo para gravar os primeiros discos e foi decisiva na formação sonora do sertão moderno.

Não foi a primeira vez que gêneros estrangeiros entraram na música rural. Desde os anos 1950, a guarânia paraguaia, o chamamé argentino, o bolero e as rancheiras mexicanos adentraram a música sertaneja, para horror dos tradicionais caipiras, que repudiavam tal mistura.

A estética e o comportamento de Roberto Carlos passaram a influenciar também a música sertaneja na forma de se vestir e se portar. Duplas como Jacó & Jacozinho, Belmonte & Amaraí, Rock & Ringo, João Mineiro & Marciano, dentre outras, levaram adiante o legado do rei na música rural.

Mesmo duplas que sonoramente não foram tão influenciadas por Roberto reconheciam sua importância. É o caso de Milionário & José Rico, que cantavam mais rancheiras, boleros e guarânias do que o rock. Os cantores também tinham os cabelos grandes, as costeletas, as calças apertadas, os óculos escuros e as jaquetas, que faziam parte da forma de se apresentar instaurada no showbusiness musical pós-jovem guarda.

José Rico reconhecia essa influência, como contou no auge do sucesso: "Roberto Carlos é um ídolo. Nada que aconteça vai mudar esse fato. Como nós, ele veio de baixo. Conquistou, como nós, o sucesso através de muito trabalho e talento".

Foi por meio de Roberto que os sertanejos incorporaram a estética do rock. Já em seu segundo disco, de 1972, a dupla Chitãozinho & Xororó botou a bateria mais pesada, o baixo mais evidente, a mixagem mais para o rock. Xororó lembra-se de que eles queriam se adequar ao seu tempo: "A gente queria fazer música sertaneja para as pessoas da nossa geração. No segundo disco, eu já estava com cabelo no ombro...".

E, se a geração dos anos 1970 já havia incorporado o rei, a geração dos anos 1980, como Chrystian & Ralf, Zezé Di Camargo (que a partir de 1991 faria dupla com o irmão Luciano) e Leandro & Leonardo, tinha Roberto como ídolo.

Esta coluna abordará, nas próximas semanas, a grande gama de influências do rei na música sertaneja. A próxima coluna será sobre as participações de sertanejos em especiais de fim de ano com Roberto a partir dos anos 1980 e de gravações do rei e dos sertanejos que se influenciaram mutuamente.

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